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Crítica: O Desinformante

Matt Damon vive um mitômano que acaba ajudando o FBI em uma investigação internacional. Ou não.

29.09.2009, às 15H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 11H00

No último mês, a Fórmula 1 viveu o maior escândalo de sua história: o piloto Nelsinho Piquet, da Renault, confessou ter batido propositadamente o seu carro no GP de Cingapura de 2008 para assim aumentar as chances de vitória do seu companheiro de equipe (Fernando Alonso) e, acima de tudo, facilitar a renovação do seu contrato para a temporada deste ano. O caso só veio a público depois que o piloto fora demitido da escuderia no meio do campeonato de 2009. O plano é uma engenhosa teia de mentiras que envolveu (e derrubou), além do piloto brasileiro, o ex-chefe da equipe, Flavio Briatore, e o diretor de engenharia, Pat Symonds. Não me espantaria se um dia isso virar um filme. Afinal, algo muito parecido e tornou O Desinformante (The Informant!, 2009), novo filme de Steven Soderbergh, que gira em torno de um mundo de mentiras inventadas por Mark Whitacre (Matt Damon), químico e alto executivo da empresa ADM, que lucra alto fabricando aqueles ingredientes que vemos em todas as embalagens de alimentos e não sabemos o que são.

O Desinformante

O Desinformante

O Desinformante

Com muita narração em off do seu protagonista, o filme começa mostrando o dia-a-dia de Whitacre na companhia, desde o seu caminho para a fábrica até o seu escritório. Aprendemos que mesmo sem saber consumimos muitos derivados do milho diariamente. E é isso que ajuda o bigodudo e bem-nutrido personagem criado por Matt Damon a manter um Porsche e outros carros na sua garagem, além de já planejar um estábulo onde vai criar cavalos. É o início da década de 1990 e ele - assim como o milho - está no topo da cadeia alimentar.

Porém, um telefonema muda o rumo da história. É um executivo japonês conhecido de Whitacre que tem informações sobre um vírus que vem atacando a lisina produzida pela fábrica e causando prejuízos de 7 milhões de dólares por mês. O tal informante diz que sabe quem está sabotando a ADM e pede 10 milhões de dólares para dar o nome do agente duplo e uma vacina contra a tal bactéria. Em questão de minutos, o FBI está envolvido e o inocente Whitacre começa a dar com a língua nos dentes e, além de dar informações sobre o caso da chantagem, abre o jogo e conta ao agente Brian Shepard (Scott Bakula) que a ADM é uma das principais organizadoras de um cartel internacional criado para controlar o preço do milho ao redor do mundo, com ligações na Europa, América Latina e Ásia.

A trilha sonora criada por Marvin Hamlisch é cheia de "barulhinhos" e deixa claro que é uma comédia. Mas a graça demora a chegar. Não vá esperando sair do cinema com o queixo doendo de tanto dar risada. Não é este tipo de filme. O timing das piadas é diferente e o humor aqui é inteligente, que não se rebaixa a flatulências, piadas sobre sexo e ao pastelão, calcando-se apenas nas situações surreais que o protagonista se coloca a cada nova mentira e no texto afiado do roteirista Scott Z. Burns. Traduzindo, é um filme coheniano dirigido por Soderbergh.

Depois de voltar a atacar de independente em Confissões de Uma Garota de Programa, o cineasta de Traffic, Erin Brokovich e da trilogia 11, 12 e 13 Homens e todos aqueles segredos volta ao cinema um pouco mais comercial. Seus filmes parecem ser, primeiramente, feitos para agradar a si mesmo. Se cair no gosto do público, beleza. Se não cair, vamos pro próximo. E graças a um Matt Damon que consegue mentir até para si mesmo sem perder a cara de bom moço, O Desinformante (The Informant, 2009) tem elementos suficientes para agradar a quem procura um filme diferente, divertido e cheio de denúncias sobre o mundo egoísta e ganancioso em que vivemos. Nelsinho Piquet, Flavio Briatore e Pat Symonds já têm o que fazer durante suas "férias".

Nota do Crítico
Ótimo