Rick Gervais subiu ao palco do Globo de Ouro e não resistiu à oportunidade de tirar um sarro de Kate Winslett dizendo "Eu falei para você que era só fazer um filme sobre holocausto que os prêmios viriam." A piada é uma referência a um episódio do genial seriado The Extras, criado pelo comediante inglês, e que mostra a atriz de Titanic encenando um filme de holocausto só para tentar ganhar um Oscar. Dito e feito. Com O Leitor (The Reader, 2008), Winslett conseguiu sua sexta indicação ao prêmio da Academia e já abocanhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz, o que a deixa com grandes chances.
O Leitor
O Leitor
O Leitor
Mais do que isso, o filme surpreendeu a todos com cinco indicações ao Oscar - Melhor Roteiro Adaptado (David Hare), Melhor Fotografia (Chris Menges, Roger Deakins), o já citado Melhor Atriz, Melhor Diretor (Stephen Daldry) e Melhor Filme - superando, por exemplo, a maior bilheteria do ano passado: Batman - O Cavaleiro das Trevas, o que deixou muitos fãs do morcegão revoltados. E devo dizer que com razão, uma vez que O Leitor não é melhor que o filme de Christopher Nolan.
Inspirado no romance homônimo, de Bernhard Schlink, o longa-metragem começa na Alemanha em reconstrução do pós-guerra. Michael Berg (David Kross) é um jovem de 15 anos que no caminho para casa passa mal e é ajudado por uma mulher (Kate Winslett). No fim do seu período de convalescência, ele volta à casa dela para agradecer e os dois acabam juntos, na cama. O romance dura o verão e, sempre muito reclusa e até mesmo dura, Hana só lhe pede uma coisa antes do sexo, que ele leia para ela. Daí o título do livro e do filme.
Quando - sem avisar - ela some sem deixar pistas, o garoto sofre e amadurece. Passam-se os anos e agora ele é um estudante de direito. Orientado por um dos seus professores ele e seus colegas vão acompanhar o processo de ex-oficiais da SS que estão sendo julgadas pela morte de prisioneiras judias. E sentimentos que ele achava que estavam no passado voltam para lhe assombrar.
Porém, mais do que o romance entre os dois, a obra tenta mostrar ao público o que foi ter nascido na Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial, todas as discussões éticas que vêm dessa época e os traumas também. No caso da nossa história, a questão é: Michael deve intervir no caso e depor a favor de Hana? Mas há ainda outra questão: ficar quieto durante o julgamento não é ser tão conivente como foram os alemães que sabiam o que era a fumaça preta que saía dos campos de concentração e nada faziam?
Questões polêmicas, uma ótima ambientação e atuações explêndidas, principalmente por parte de Winslett e Kross. Os dois são apaixonados e apaixonantes. Porém, o filme não consegue manter o ritmo narrativo durante toda a sua duração. As cenas no presente, que mostram Michael mais velho (interpretado por Ralph Fiennes) não têm a mesma empolgação. Fiennes, que vinha tendo um ano impecável com Na Mira do Chefe e A Duquesa não acha aqui o tom do seu personagem, que aparece como calado e recluso e inicia uma mudança de comportamento que não convence.
É impossível dizer se que Winslett vai enfim levar para casa um prêmio da Academia, para ficar ao lado do Oscar que o seu marido Sam Mendes ganhou por Beleza Americana. Mas é fato que a os votantes do prêmio continuam caindo no "velho truque dos filmes de holocausto". Não estou dando uma de bispo Richard Williamson e negando as barbaridades que ocorreram, apenas questionando se não era hora de julgar os filmes mais pela sua arte do que pelo seu tema. Até lá, me divirto com as piadas politicamente incorretas do Rick Gervais.