o sol do meio-dia

Mais especificamente, joga tudo na capacidade de Diaz e Vasconcelos de preencher os vazios que o roteiro deixa na hora de construir os personagens. De Artur (Vasconcelos) sabemos apenas que está deixando a cadeia depois de cometer um crime pelo qual, aparentemente, ainda não se perdoou. O drama do barqueiro Matuim é mais imediato mas não menos complicado: morreu seu pai e, para evitar os parceiros de negócio do velho, ele decide fugir para Belém.
A partir daí - do acaso que une Artur e Matuim rio acima - surge um triângulo amoroso que lembra bastante Cidade Baixa. Lembra não só por sua premissa, como também pelas relações cheias de coisas não ditas que pontua o filme, dentro de uma linha de roteiro mínimo, conflitos interiorizados e interpretações naturalistas que nos últimos anos tem se tornado norma no cinema autoral nacional.
É uma proposta ligeiramente diferente do que a diretora vinha fazendo em Kenoma (1998) e Javé, que partiam de dramas individuais para falar de temas mais amplos, mais "importantes". Ao reduzir a ambição em O Sol do Meio-Dia, Caffé patina um pouco. São interrogações demais, que a certa altura se somam a outras interrogações, e algumas não se resolvem a contento. A câmera está colada ao corpo dos dois o tempo inteiro, mas à procura de desvendar o quê?
Parece que os dois atores, no fim das contas, sabem tanto dos seus personagens quanto nós - e nessa mise-en-scéne à cata urgente de algo a reter, muito se perde por não saber o que se procura.