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Crítica

Crítica: O Tempo Que Resta

O tempo que resta

24.08.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

O Tempo Que Resta

Le Temps Qui Reste

França, 2005
Drama - 85 min

Direção e roteiro: François Ozon

Elenco: Melvil Poupaud, Jeanne Moreau, Valeria Bruni Tedeschi, Daniel Duval, Marie Rivière, Christian Sengewald, Louise-Anne Hippeau

Às vezes a vida pode ser mais solitária do que o momento da morte. É disso que fala o sensível e acessível filme francês Tempo que resta (Le temps qui reste, 2005).

O diretor François Ozon parece ter se livrado dos exageros cênicos de 8 mulheres e dos dramatúrgicos de Swimming pool. Aqui ele investe numa melancolia similar à de Amor em 5 tempos - melancolia essa que fica expressa logo no belo primeiro plano. Um garoto está sentado na praia, de frente para o mar. Surgem os créditos, com os nomes do elenco e da equipe. O menino segue sentado, a fotografia colorida dá uma sensação de sonho de infância. Na hora em que ele se levanta para nadar, surge o título... o tempo que resta.

Não é fatalismo, mas sensatez. A hora de todos um dia chega - só que Romain (Melvil Poupaud) não esperava a sua. Fotógrafo de sucesso, gay assumido, mal chegado aos 30 anos, ele recebe de um médico a notícia de que está com um câncer generalizado. Tem uns três meses de vida. Na sua família há casos de tratamentos que debilitaram ainda mais os doentes. Romain não quer fazer quimioterapia. Rapidamente decide também que não contará nada aos seus pais ou ao namorado.

O que fazer, então, com o tempo? Esse tipo de proposta, a dos filmes que falam da morte como um acerto de contas e uma revisão da existência, não é original. Morrer, oras, não é original. Não vivem dizendo que a vida passa diante dos olhos nos momentos finais? É o assunto mais manjado, e mesmo assim Ozon trata-o com frescor. Ser sensível, no caso, é não abusar de músicas melosas nem de armadilhas sentimentais. Se há uma boa característica dos franceses que o diretor conserva é o de ser anti-melodramático.

E há todo um conceito implícito na história. O fato de Romain ser um fotógrafo não é gratuito. No começo do filme ele está fazendo um ensaio de moda - ligeiro, dezenas de cliques por minuto, superficial. Quando fica sabendo da doença terminal, começa a olhar o mundo de jeito diferente. E a narrativa passa a acompanhar esse olhar: mais pausado, paciente, contemplativo. Com a sua câmera Romain capta momentos banais e extrai deles a essencialidade. O personagem não diz, mas quer viver para sempre através dessas imagens. Assim como Ozon quer durar por meio das suas.

Nota do Crítico
Bom