Um Conto de Natal, uma das obras mais conhecida de Charles Dickens, já ganhou dezenas de adaptações para as telas. O texto de 1843 virou filme, um curta-metragem, pela primeira vez logo na aurora do cinema, em 1910, pela Edison Manufacturing Company.
Os Fantasmas de Scrooge
Os Fantasmas de Scrooge
Os Fantasmas de Scrooge
Desde então, o conto teve as mais diversas interpretações. Dos Muppets a Bill Murray, passando por Tio Patinhas e Matthew McConaughey, o velho Scrooge ganhou versões em todos os gêneros e com maior ou menor grau de fidelidade ao original. Dessa forma, o clássico natalino avança através das eras. Do cinema mudo e preto e branco, ganhou som, depois cor, efeitos especiais... e agora estreia na mais avançada tecnologia disponível no mercado, o 3-D estereoscópico com captura de movimentos e projeção em IMAX.
Robert Zemeckis, que já explorou essa tecnologia toda em O Expresso Polar e a aperfeiçoou em A Lenda de Beowulf, agora atinge pleno domínio da técnica. Mas ainda que Um Conto de Natal tenha virado o high-tech Os Fantasmas de Scrooge - surpresa! -, ele mantém todo o teor melodramático do original.
A história é a velha conhecida de sempre. O velhote avarento Ebenezer Scrooge trata mal os empregados e a pouca família que tem, já que considera o Natal uma festa sem sentido. Mas na véspera da festividade é visitado pelo fantasma de seu velho sócio, que avisa: ele será visitado por três outros fantasmas que lhe mostrarão os Natais passados, o Natal presente e os Natais vindouros. E Scrooge embarca em uma jornada sobrenatural para aprender o significado da família, amigos e da compaixão.
A marca Walt Disney Company que estampa o filme e a contratação de Jim Carrey para dublar e interpretar Scrooge e todos os fantasmas (a versão brasileira tem a voz de Guilherme Briggs) , podem até prenunciar um filme leve, familiar. Mas o resultado é sombrio, dramático e assombroso em diversos momentos.
Claro, Zemeckis insere elementos aventurescos na produção - como os alucinados travelings aéreos a cada vez que um fantasma apanha o pobre Scrooge pela mão ou algumas perseguições cheias de suspense -, mas isso é pura pirotecnica. É no drama que o filme se sustenta.
Gary Oldman como o ajudante Bob Cratchit está perfeito. Quando o sofrimento do personagem e sua família começa dá até pra esquecer o visual levemente caricato das pessoas. E Zemeckis filma como diretor iraniano, com longos planos-sequência, jogando pela janela nessas cenas tudo o que se entende por "cinema blockbuster" e seus planos de 7 segundos no máximo. Ele fica ali, movendo a câmera colada nos rostos, evidenciando a profundidade e registrando aquele teatro todo, cortando apenas quando realmente necessário, para trocar radicalmente um ângulo ou cena. Como se não bastasse, ainda dá ao público momentos nunca vistos no cinema 3-D. A cena expressionista em que Scrooge acende a vela, surgindo em primeiro plano da escuridão, é de enorme beleza.
Fica a dúvida, porém, em relação ao público-alvo do filme. Definitivamente não é uma história para crianças. Há sustos, muita vertigem e lamentação. Mas os adultos já conhecem de cor a trama, não se surpreendem mais com a técnica e podem se aborrecer com as citadas exageradas viagens aéreas pela cidade vitoriana. Assim, quem pode se interessar por este Os Fantasmas de Scrooge? Ele é bonito e fiel à obra, mas a história está velha. Cobri-la de pixels que saltam à vista só traz modernidade por um ângulo...
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