Não é de hoje que a indústria cinematográfica produz filmes em que ambienta grandes e intensos romances durante graves e perigosos períodos de guerra. Clássicos como Casablanca e até produções mais recentes como O Paciente Inglês e Pearl Harbor têm sua trama romântica relacionada com a Segunda Guerra Mundial. Já Across The Universe é um dos inúmeros projetos que têm a Guerra do Vietnã como pano de fundo. E agora, pela primeira vez, um longa ambienta sua sinopse romântica durante uma das batalhas mais recentes da história mundial, no caso aquela travada no Oriente Médio pelos Estados Unidos após os acontecimentos do 11 de Setembro.
Querido John
Querido John
Querido John
Na trama o soldado John (Channing Tatum - G.I. Joe - A Origem de Cobra) está de licença quando conhece Savannah (Amanda Seyfried – Mamma Mia) e se apaixona. São duas semanas de amor intenso em um lindo cenário litorâneo com todos os clichês típicos de filmes de romance, com direito o primeiro beijo na chuva e tudo mais. Terminada as férias, John precisa voltar para seu posto nas Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos e Savannah para seus estudos na faculdade. Apaixonados, combinam de trocar cartas durante o longo ano em que terão que ficar separados, prometendo colocar tudo no papel durante o período e depois darem continuidade ao romance já iniciado. Porém, neste meio tempo os aviões sequestrados se chocam com as torres do World Trade Center, não só colocando abaixo não apenas as Torres Gêmeas como também as chances do casal se reencontrar. Munido de seu sentimento de dever patriótico, John decide renovar seu período de alistamento militar, o que vai gerar conseqüências para seu relacionamento com Savannah.
O roteiro do filme se baseia em um livro do escritor Nicholas Sparks, o mesmo autor de Diário de uma Paixão. O talento de Nicholas para histórias românticas e tocantes é imenso e o filme até consegue transpor bem este desejo. Só que o desejo é freado no meio do caminho por parcas e fracas interpretações de seus protagonistas. Amanda ainda se esforça, mas o máximo que ela consegue é esboçar olhares doces e lacrimosos, porém não muito verdadeiros. Já Channing é pior, tanto pela sua crítica falta de expressão facial como pelo fato de se deixar dominar intensamente pela aura de bravo soldado, ficando difícil arrancar um olhar que, de longe, lembre algo amoroso.
A grande e boa surpresa do filme fica por conta de Richard Jenkis, ator indicado ao Oscar por O Visitante. Intérprete do pai do protagonista, Richard encarna um personagem que a princípio parece distante e metódico, até que percebemos que ele sofre de um grau de autismo que passa despercebido até pelo próprio filho. É interessante notarmos o processo de um familiar estar tão envolvido e acostumado com as atitudes do indivíduo que sua doença passa incólume, mas não pela personagem de Savannah que percebe a situação, até então ignorada por John. Também é tocante vermos a forma que o personagem tenta se relacionar, mesmo isolado no individualismo característico do autista.
Ao final fica um sentimento de filme açucarado com toques de adrenalina, bem apropriado para ser visto por um casal em um final de domingo. Ela vai se emocionar com romance e ele, com a guerra. A diferença é que não se verá na tela uniformes nazistas, sotaques russos ou vietcongues em combate. O casal verá na obra aquele setembro de 2001 em que todos se lembram onde estavam e o que estavam fazendo. Se isso será suficiente para tocar o público, só a bilheteria dirá.