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Crítica

Crítica: A Ressaca

Comédia mistura De Volta Para o Futuro com Se Beber Não Case - mas erra nas doses

09.09.2010, às 17H47.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H07

Dá até pra imaginar o pitch (o termo hollywoodiano usado para vender um projeto para os estúdios) de A Ressaca (Hot Tub Time Machine, 2010): "Uma mistura de De Volta Para o Futuro com Se Beber Não Case".

A Ressaca

A Ressaca

A Ressaca

A comédia de Steve Pink, segunda de sua carreira como diretor depois de uma série de filmes em que foi produtor (entre eles Alta Fidelidade e o recente Encontro Explosivo), pega a temática "sacana" que voltou à moda com Judd Apatow e Todd Phillips e a cerca de elementos de ficção científica. Ao lado do sexo, drogas e rock'n'roll há viagens no tempo, destruição do continuum e a clássica entidade enigmática que guia os protagonistas.

A jornada temporal de A Ressaca envolve um grupo de amigos quarentões, todos insatisfeitos com o rumo de suas vidas. Um está passando por um conturbado divórcio (John Cusack), outro vive à sombra da esposa controladora que pode ter um caso (Craig Robinson), e o terceiro, solitário, contempla o suicídio (Rob Corddry). Completa o quarteto de viagens um garoto com problemas de socialização, que vive apenas uma realidade online (Clark Duke). Para tirar as ideias de morte da cabeça do amigo, os demais resolvem levá-lo à Kodiak Valley, uma festiva cidade nas montanhas onde eles passaram os melhor fim de semana de suas juventudes. Porém, ao chegarem lá, descobrem que tudo mudou - e o paraíso da mulherada e bebedeira tornou-se uma cidade fantasma da terceira idade. Até que entra em funcionamento a "jacuzzi do tempo" do título... E eles voltam à gloriosa década de 1980, quando, temerosos de uma suposta destruição do futuro, o quarteto decide recriar fielmente cada evento daquela noite, por mais doloroso que tenha sido.

A produção seria divertidíssima se não tentasse, além da salada descrita acima, misturar ainda dispensáveis lições de vida, transformar a coisa toda em um filme de formação para a crise de meia-idade. O desfecho, totalmente voltado para essa ideia, é simplesmente tedioso. Lições de vida são chatas quando tudo o que você quer é se divertir um pouco.

Além disso, Phillips e Apatow sabem como preparar o terreno para escatologias e piadas sexuais. Pink não. Todos esses momentos em A Ressaca parecem gratuitos e exagerados. Não há desculpa para a sequência em que, depois de perder uma aposta para William Zabka (o Cobra Kai Johnny do Karatê Kid original!), o personagem de Corddry tem que realizar uma felação em seu amigo. Dentro de um contexto, piadas assim funcionam (o final de Se Beber Não Case, por exemplo, tem uma das melhore "piadas de pinto" de todos os tempo). Largadas aleatoriamente, não passam de grosseria.

Enfim, para cada ideia digna de uma gargalhada, o filme escorrega em outras. E como a distribuidora nacional escolheu um título etílico que pega carona no sucesso de Se Beber Não Case (The Hangover, a ressaca), ao invés de optar por uma tradução literal de Hot Tub Time Machine, perde-se ainda a mais honesta (improvisada, talvez?) e engraçada cena do filme. Nela, o sensacional Craig Robinson (famoso pela participação em The Office), ao observar o aparato que os levou ao passado, atesta o óbvio ("Mas é uma banheira... máquina do tempo...") e dá um longo olhar semicerrado para a câmera. Ao quebrar a quarta parede com tal frase, a comédia prepara elegantemente o público para um humor despretensioso e safado. Pena que não consegue seguir assim até o final.

Nota do Crítico
Bom