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Rota Irlandesa | Crítica

Ken Loach faz de refém o thriller de vingança e realiza o seu pior filme

04.10.2012, às 19H00.
Atualizada em 12.11.2016, ÀS 00H01

Quando intercala seus dramas de esquerda com filmes de gênero, Ken Loach ainda assim sempre tem um comentário social a fazer, seja na comédia de fantasia ou no romance. Não é diferente em Rota Irlandesa (Route Irish, 2010), um thriller de vingança denuncista que deve descer pesado até no estômago dos fãs do cinema engajado do britânico.

route irish

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ken loach

A tal rota irlandesa é o apelido da "via mais perigosa do mundo", como um personagem define o trecho que liga o aeroporto de Bagdá à chamada Zona Verde, a área segura que o exército dos EUA isolou ao redor do antigo palácio de Saddam Hussein. Foi na rota irlandesa que morreu Frankie (John Bishop), alvo de uma emboscada iraquiana, para desespero de Fergus (Mark Womack), o amigo de infância que havia convencido Frankie a ganhar a vida no Oriente Médio.

O objetivo de Loach é expor o mercado privatizado da guerra, de companhias que contratam ex-militares para transportar pessoas e objetos em zonas de conflito. Fergus conhece bem essa indústria de mercenários, e começa a desconfiar que a morte de Frankie talvez esteja mal explicada. Começa aí uma trama de acerto de contas que passa, obviamente, pela defesa do pacifismo.

No papel não parece tão ruim, mas na prática Loach liga o piloto automático. Tudo em Rota Irlandesa soa como LP riscado, de constatações "inéditas" ("Sabe o que os americanos faziam lá? Eles torturavam!", diz Fergus à viúva de Frankie) a sentimentalismo burocrático (o inglês de origem iraquiana tem que ser músico, claro, para colocar seus lamentos em versos; o cinema às vezes faz acreditar que todo árabe é um crooner em potencial).

Para não parecer que está requentando o tema, Loach tenta dar urgência ao filme e elege protagonista o personagem mais histérico possível - ótima a cena em que o cego pede que Fergus pare de gritar um pouco. A culpa não é só do ator Mark Womack. São as situações simplistas pensadas por Loach e pelo roteirista Paul Laverty (mostrar que a mulher faz yoga logo depois de Fergus se revelar um selvagem é muita cara de pau) que matam nossa chance de identificação com o anti-herói em conflito.

No fim, Rota Irlandesa banaliza não só as tramas de segunda chance - tem lugar-comum maior do que os arrependidos que pedem para a mulher bater-lhe na cara? - como os próprios suspenses de vingança. O filme entrega um pouco do seu mistério logo de cara, com a escuta no celular comentando a morte de Frankie. Aliás, revela o mistério uma segunda vez quando coloca os vilões para jogar golfe. Outra coisa que o cinema nos ensina, além dos árabes cantores: quem joga golfe boa pessoa não é.

Rota Irlandesa | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ruim