Todd Phillips (Dias Incríveis) irrita-se com a mania do momento, categorizar os filmes de amizades masculinas de "bromances".
Hangover
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Para o diretor, as relações próximas entre homens (e não me refiro aqui ao tipo mostrado em O Segredo de Brokeback Mountain) geram ótimas comédias há décadas, sempre explorando os constrangedores momentos em que os "caras" precisam de alguma forma expressar seus sentimentos uns pelos outros. E se o clássico bordão "te considero pra caramba" é a manifestação suprema disso, nada melhor para Phillips que situar Se Beber Não Case (The Hangover), seu novo filme, na Meca da bebedeira e dos pecados perdoados (o que acontece por lá, fica por lá), Las Vegas.
Na trama, às vésperas do casamento de Doug (Justin Bartha), seus melhores amigos - Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e Alan (Zach Galifianakis) - armam uma empolgada despedida de solteiro na cidade dos cassinos. Na manhã seguinte, os três acordam com a mãe de todas as ressacas num quarto de hotel detonado, sem qualquer lembrança do que aconteceu. Pra piorar, o noivo sumiu... e o que são aquela cadeira fumegante, a galinha andando na sala, o bebê no armário ou o tigre de begala no banheiro?
Nessa espécie de Amnésia cômico/etílico, as pistas precisam ser seguidas em direção a Doug antes que chegue a hora da cerimônia. A cada mistério revelado, enfileram-se novos personagens bizarros e situações surrealistas. A estrutura de sketches é divertidíssima, mas é o humor politamente incorreto o grande diferencial da comédia. Melhor ainda é quando essas piadas são disparadas por Zach Galifianakis, comediante que obteve algum reconhecimento na Internet com seu programa de entrevistas, "Entre Duas Samambaias", e aqui salta para a fama. O sujeito tem um tempo de comédia brilhante e uma expressão que mistura intensidade e inocência, perfeitamente talhada para o humor. Acredite, outra pessoa não conseguiria fazer rir usando como tema o holocausto ou o 11 de setembro. Gênio.
Se Beber Não Case é um filme direcionado para homens, mas o público feminino, se conseguir superar o fato de que todas as mulheres da história são desagradáveis e manipuladoras (com a exceção honrosa da alegre prostituta vivida por Heather Graham), deve encontrar motivos para rir também. Afinal, ressaca não tem sexo.
Essa abrangência deve ficar ainda mais evidente aqui no Brasil, país que recebeu uma versão "light" da comédia, com linguajar atenuado nas legendas e todos os pênis do filme original cortados (...) na edição. Na versão dos EUA, o baloiçante membro masculino faz rir em cenas de luta e num inusitado sexo oral da terceira idade. Aqui, uma cueca apareceu em uma das cenas e um quadriculado esconde a prática sexual. O que era 18 anos caiu para censura 14, para a alegria do estúdio regional. As risadas continuam intactas, mas a sensação de estar diante de algo que testa os limites do bom-gosto e bom-senso se perde um pouco. A original era mais contestadora e chocante, mas não será a ausência de uns cacetes algo que estragará a melhor comédia do ano.