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Crítica

Crítica: Segurando as Pontas

Comédia maconheira recupera o filme de macho dos anos 80, mas com amor

26.09.2008, às 12H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H40

Se eu tivesse que apostar sobre qual seria o próximo filme do cineasta independente David Gordon Green depois do intenso drama Contra Corrente (Undertow, 2004), eu certamente não colocaria meu dinheiro em Segurando as Pontas (excelente título nacional para Pineapple Express, 2008).

pineapple express

seth rogen

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Do profundo Centro-Oeste norte-americano, das famílias sem perspectiva social regidas pelo determinismo, Gordon Green foi à ensolada Califórnia, à fútil Los Angeles, para contar uma história de... maconheiros!

É curioso como o diretor, que obviamente tinha tanto a dizer em 2004, resolveu não falar coisa com coisa neste. Os silêncios contemplativos e diálogos cheios de rancor foram substituídos por conversas sobre contas anais, bagulhos-em-cruz, frases como "foda-se Jeff Goldblum" e risadas chapadas. E o cineasta parece estar divertindo-se como nunca!

Mas Segurando as Pontas não se resume a uma comédia maconheira como as dos antológicos Cheech & Chong. Lado a lado com os elementos típicos desse tipo de produção estão cenas de ação que transformam o longa em uma das melhores paródias de filmes de macho dos anos 1980. Há tiroteios, lutas climáticas em cenários exóticos, esquadrões de elite, fugas impossíveis e frases de efeito. Mas tire a virilidade de um Sylvester Stallone de cena e imagine em seu lugar o gorducho e desgrenhado Seth Rogen para ter uma idéia do quanto o resultado é engraçado.

Rogen, que também escreveu o roteiro ao lado de seus amigos e colaboradores Evan Goldberg e Judd Apatow - que repetem aqui a trinca de Superbad - É Hoje! - vive um sujeito que entrega intimações judiciais. Durante um serviço, acaba presenciando um crime: um dos chefões do narcotráfico local e uma policial matando um traficante rival. Desesperado, ele foge até o primeiro lugar que lhe vem à mente, a casa de seu próprio traficante, Saul. Acontece que ele largou seu baseado no local, e o chefão do crime imediatamente identifica a qualidade do bagulho - é uma rara Pineapple Express - e sabe exatamente quem tem a exclusividade de sua venda na cidade.

É a típica história de pessoas comuns metendo-se inadvertidamente em algo maior que elas e tendo que lutar por suas vidas. Mas o roteiro mistura os principais elementos que tornaram Superbad um sucesso: a amizade masculina acima de tudo ("bros before hos") e mistura de malícia e inocência.

Personagem emblemático disso é o distribuidor Saul, vivido por James Franco na melhor atuação de sua carreira. Esqueça o ator chatinho de Homem-Aranha. Com um sorriso esfumaçado no rosto e olhos eternamente semicerrados, ele rouba, transformado, as cenas que divide com o ótimo Rogen.

Não é algo fácil. Mas seu páreo fica mais ainda mais difícil quando entra em ação Danny McBride, nova revelação da comédia dos EUA, como o melhor amigo de Saul, Red. McBride, descoberto na comédia The Foot Fist Way, lançada em DVD e festivais por lá, já faria rir só pela presença, marcada pelo cabelo com permanente e quimono de seda, mas com um jeitão idiota vai conquistando seu espaço e quando você percebe já está fascinado com o sujeito.

No final, Segurando as Pontas é uma grande viagem. Tem momentos de euforia, paranóia (a cena da mata é impagável), algumas seqüências mais sonolentas (o filme tem quase duas horas) e acaba matando a larica, em uma lanchonete. Só não tem a dor de cabeça associada às canabiáceas de má qualidade. A Pineapple Express é da boa.

Teaser para maiores - Clipe

Nota do Crítico
Excelente!