Rebecca é uma técnica em raios-x que passa seus dias realizando mamografias. Ela mora com a avó, Andra, e tem uma irmã, Mary, que trabalha em uma clínica de beleza e spa. No apartamento colado ao seu vive Kate, casada com Alex e mãe da adolescente Abby. Kate e Alex são donos de um antiquário, onde vendem móveis e objetos de decoração adquiridos de famílias que perderam um ente querido e precisam dar um destino (rápido) aos seus pertences.
Please Give
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No delicado Sentimento de Culpa (Please Give, 2010), escrito e dirigido por Nicole Holofcener (de Amigas com Dinheiro), as vidas dessas personagens distintas se unem na cidade de Nova York não apenas pela sensação implícita no longa e explícita no título em português, mas também pelo desejo de "doação" do título original.
Rebecca (Rebecca Hall, em uma atuação que prova porque ela é uma das grandes promessas da sua geração) se contenta com o emprego simples, a falta de amigos e namorado (seus encontros são sempre com homens que conhece pela Internet) pois é órfã de pai e mãe e opta em dedicar seu tempo livre a cuidar da sua neurótica avó (Anna Guilbert, que rouba todas as cenas em que aparece). Sua irmã, Mary (Amanda Peet), raramente a ajuda nesta tarefa pois não suporta a avó e está muito ocupada em perseguir a atual namorada de seu ex-namorado. Kate (intepretada por Catherine Keener, sempre competente e queridinha da diretora) sente que extorque as famílias das quais compra os móveis que vende em sua loja, já que se aproveita do fato de que as pessoas muitas vezes não têm noção de quanto valem as peças e as vendem por preços simbólicos. Seu marido Alex (Oliver Platt) tem uma queda explícita por Mary, enquanto ambos parecem não entender as necessidades da filha Abby (Sarah Steele).
A culpa que Rebecca sente em relação ao seu trabalho a perturba tanto a ponto de ela precisar compensar este sentimento com doações. Ela passa, então, a procurar lugares onde possa fazer trabalho voluntário (mesmo que todos os que tente lhe incomodem de alguma forma) e dá esmola a todos os necessitados que encontra na rua. Enquanto isso, traições, traumas e sentimentos conflitantes giram em seu círculo familiar.
Mesmo com tantos conflitos, o filme é leve, pois trata assuntos difíceis de forma tranquila, com um olhar feminino e atuações de calculada intensidade. Os momentos cômicos também ajudam nessa intenção, com o riso propositadamente constrangido em piadas apoiadas na velhice de Andra. Com essa leveza, o longa de Holofcener propõe que não é na entrega da matéria, mas na simples doação de si, do tempo e de seus pensamentos, a maneira de se eximir dessa culpa que se sente pelo estado das coisas.