O inteligente sarcasmo do título original, Funny People, foi bem adaptado por aqui. A frase Tá Rindo do Quê? dá uma boa ideia do que esperar do terceiro filme como diretor de Judd Apatow depois de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos.
Tá Rindo do Quê?
Tá Rindo do Quê?
O midas da comédia, responsável pela produção de quase todos os longas estadunidenses realmente engraçados da última década, retorna aqui com um filme adulto, que faz rir, mas não gargalhar. É difícil achar muita graça da realidade, afinal - e Apatow parece mais interessado em explorar os bastidores da comédia e humanizar os humoristas, que disparar as situações inusitadas pelas quais ficou conhecido. Não há cenas de depilação, perseguições policiais chapadas ou referências culturais pop durante o sexo.
O tom do filme lembra mais uma piada de Watchmen, de Alan Moore. Nela, um homem vai ao médico e se diz deprimido. O doutor receita que ele tire uns dias, que vá assistir ao grande palhaço Pagliacci, que está na cidade. "Mas doutor, eu sou o Pagliacci!", responde o homem.
O Pagliacci aqui é Adam Sandler, que interpreta uma versão ficcional distorcida de si mesmo - com direito a raro material de arquivo de sua carreira. Ele é George Simmons, comediante de 42 anos que ganha muito dinheiro com os filmes idiotas que faz, é perseguido pelas mulheres, mas não tem amigos de verdade. Quando George descobre que está doente, parte atrás de um herdeiro na comédia (Seth Rogen) e se convence a ir atrás de um antigo amor (Leslie Mann), agora casada com um machão australiano (Eric Bana).
Tá Rindo do Quê? é pessoal e quase intimista, mas equilibra o sentimento com bom-humor. Mesmo quando as coisas estão tensas há sempre espaço para um alívio cômico - e eles existem aos montes como escapismo para os personagens do filme. Sandler e Rogen, muito contidos, têm os melhores diálogos, mas as piadas mais engraçadas vêm de Jonah Hill e Jason Schwartzman, que vivem os colegas de quarto do personagem de Rogen.
Fracasso de bilheteria - e largado no Brasil direto em home video
- o filme deve parte desse insucesso à sua duração. O último
ato é arrastado e poderia ser enxugado para acelerar as coisas, mas Apatow
não deve ter encontrado forças para tanto. Afinal, sua família
(esposa e duas filhas) tem papel de destaque justamente aí. Com isso,
vão-se quase 2 horas e meia de tragicomédia, o que afastou o público
e deu um nó na cabeça dos distribuidores, que não identificaram
um público-alvo claro para o produto. Pena. A mistura de comédia
e reflexões sobre a vida, morte, família e carreira merecia destino
melhor.