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Crítica

Crítica: Tempos de Paz

Em um monólogo Dan Stulbach ganha o filme

13.08.2009, às 17H00.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 23H06

Preguiça era a palavra que melhor definia o que sentia sobre Tempos de Paz (2009), depois de ver o trailer. Pensei logo de cara que seria mais um filme global, com trama novelesca se fingindo de cinema, como Olga. E a primeira cena, a bordo de um navio, com Dan Stulbach falando em polonês visivelmente redublado em estúdio, só confirmava minhas primeiras impressões. Mas preciso dizer que dessa vez Daniel Filho (Se Eu Fosse Você, Primo Basílio, Muito gelo e dois dedos dágua) me surpreendeu. Na verdade, não propriamente ele, mas Stulbach e Tony Ramos, que são os protagonistas e a história.

Tempos de Paz

Tempos de Paz

Tempos de Paz

Stulbach faz Clausewitz, um polonês que vivenciou a Segunda Guerra Mundial, viu o que ninguém queria ver e agora só pensa em recomeçar sua vida no Brasil, longe o suficiente de tudo aquilo, com as mãos na enxada, trabalhando na lavoura. Mas ele chama atenção dos agentes da imigração quando chega ao país falando em um português bastante fluente e até mesmo recitando poemas de Carlos Drummond de Andrade. Não demora para ser mandado para os escuros calabouços do cais, onde conhece Segismundo (Ramos), ex-oficial da polícia de Getúlio Vargas, que está perdido nos seus afazeres agora que a guerra acabou e ele não precisa mais ficar procurando nazistas escondidos entre as pessoas que tentam entrar no Brasil.

Porém, Segismundo decide fazer do polonês o seu último caso e reluta em acreditar que ele é um agricultor como diz no seu visto. Suas mãos lisas, sua boa fluência na nossa língua, a ausência completa de bagagens e tamanha alegria não podem ser normais. Segismundo tenta conseguir uma propina, mas o imigrante não tem o que oferecer além de suas memórias, e aquelas atrocidades ele não quer trazer de volta à tona.

O oficial, então, faz uma aposta: se o polonês conseguir fazê-lo chorar, está liberado para se mudar de vez para o Brasil. Antes, porém, conta ao imigrante, com frieza ímpar (e ótimo momento de Tony Ramos), o que ele fazia como ex-torturador da polícia de Getúlio Vargas. E daí entra em cena o furacão Dan Stulbach. Se até então ele parecia ser uma versão do cinema nacional para o personagem de Tom Hanks em O Terminal (desculpem-me, mas é um paralelo impossível de escapar), começa o show. Em um monólogo ele transforma um filme regular em algo bom, digno de ser recomendado para os amigos. Se estivéssemos em um estádio de futebol, seria um gol de placa, daqueles que as pessoas comentam no dia seguinte, sobem no YouTube e assistem várias vezes ao longo de suas vidas.

O mérito de Daniel Filho nisso tudo? Vários. Enxergar na peça Novas Diretrizes em Tempo de Paz, de Bosco Brasil, interpretada pelos mesmos Tony Ramos e Dan Stulbach, uma história que poderia ser contada também no cinema. Filmá-la em apenas 10 dias e custando cerca de 1,5 milhão de reais. E desta vez vai ser mais difícil dizerem por aí que o filme tem cara de televisão. Porque ele tem corpo e alma é de teatro. Teatro bom, claro. Neste momento, estou eu também em tempos de paz com o diretor global. Pelo menos até Se Eu Fosse Você 3.

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Nota do Crítico
Bom