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Traffic | Crítica

Tem sexo e drogas, só faltou o Rock´n Roll

15.03.2001, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 04H12

Você já leu Asterix alguma vez na sua vida? Se leu, vai se lembrar que na primeira página sempre tem um mapa da Gália (região do norte da França) e uma lupa que mostra em detalhes a irredutível aldeia liderada por Abracurcix e as três guarnições romanas. Guardadas as devidas proporções, Traffic é mais ou menos isso. A diferença é que o filme dá um zoom na fronteira entre Estados Unidos e México.

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Depois de várias investidas contra os cartéis colombianos, é entre as cidades de San Diego (EUA) e Tijuana (México) que uma imensa quantidade de drogas passa do terceiro para o primeiro mundo. E é nesta divisa que boa parte do filme vai se focar.

Steven Soderbergh, assim como fizeram há pouco Quentin Tarantino (Pulp Fiction e Jackie Brown) e Guy Richie (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes), cruza diferentes histórias. Duas delas, como já foi dito, se passam na fronteira californiana. A última não tem uma sede fixa. Há cenas em Washington DC, Cidade do México, no próprio limite entre os países e, por fim, em Cincinnati, onde vive a família do personagem de Robert Wakefield (Michael Douglas).

Wakefield foi nomeado o novo líder antidrogas americano. Porém, antes de lidar com o problema do tráfico e consumo de entorpecentes do país, o juiz terá que aprender a cuidar de sua filha (Erika Christensen), viciada em crack e heroína. Na outra ponta da história está Carlos Ayalla (Steven Bauer), traficante que vive no belíssimo bairro de La Jolla, em San Diego. Helena (Catherine Zeta-Jones), sua esposa, está esperando o segundo filho do casal e até a prisão de seu marido não sabia de onde vinha o dinheiro que os sustentava. Em território mexicano, estão Javier Rodriguez Rodriguez (Benício Del Toro) e Manolo (Jacob Vargas), policiais da fronteira que acabam se aliando ao general Salazar (Tomas Milian), maior combatente local do tráfico de drogas.

Soderbergh, que também assina a direção de fotografia (usando o pseudônimo Peter Andrews), usou cores diferentes para cada história. No México de Javier Rodriguez tudo é amarelado. O mundo de Robert Wakefield é azulado e em San Diego tudo é ligeiramente mais claro que o normal. Excelente trabalho! A direção também está impecável. Não é fácil trabalhar num filme em que 110 personagens têm falas e deixar claro quem é quem. Os textos merecem inclusive um destaque. No México de Traffic, os mexicanos falam em espanhol, diferente da França de Chocolate e na Roma de Gladiador, em que todos falam inglês!

Apesar do elenco estrelado (fazem parte ainda Dennis Quaid, Salma Hayek, Don Cheadle, Luis Gusman, Miguel Ferrer e uma lista sem fim), é sem dúvida o diretor o grande astro. Não é à toa que conseguiu indicações não só por Traffic, mas também por Erin Brockovich, ambos para melhor diretor e filme, fato inédito na história da Academia.

Como cuidar do problema de um país inteiro se não se consegue lidar nem com o que acontece em sua casa? É possível não se vender vivendo num mundo recheado de corruptos, em que rola muito dinheiro, se você ganha apenas US$ 316 por mês? Para proteger a família vale até mesmo fazer o que a lei considera errado? Estes são os três conflitos que causaram tanta polêmica em Traffic. Não são perguntas tão absurdas. O tema não é "cabeça" e poderiam estar na mente de qualquer um e é justamente por isso que o filme é bom. Porque ele mostra o óbvio, o nosso dia-a-dia de forma verdadeira, sem maquiagem, combinando drama com pitadas de humor e tensão, sem esquecer do tesão, seja ele sexual, por drogas ou qualquer outro motivo.

Ah, lembra do Rock´n Roll que o título diz que está faltando? Depois de ver Traffic, você nem vai lembrar que ele não está lá.

Nota do Crítico
Excelente!