Tom Tykwer era uma promessa da reinvenção do cinema de ação quando lançou Corra, Lola, Corra em 1998. Depois do bem-sucedido debute, porém, o alarde em torno de seu nome diminuiu com filmes apenas razoáveis, como A Princesa e o Guerreiro. Seu retorno aos holofotes deu-se em 2007 com a boa adaptação de O Perfume. O cineasta alemão agora se arrisca com um thriller passado no mundo da espionagem e altas finanças em Trama Internacional (The International, 2009).
Trama Internacional
Trama Internacional
Apesar de Tykwer nunca ter conseguido manter-se à altura da revolução que se esperava dele, é inegável que ao menos não sentou-se nos louros de seu sucesso, buscando novas maneiras de contar histórias. Neste seu novo filme, ainda que se inspire bastante em séries como as de Jason Bourne e James Bond, o diretor não tenta reprisar o que já foi feito e, novamente, procura alguma novidade para um gênero já bastante explorado.
No suspense de ação, Clive Owen vive Salinger, um obsessivo agente da Interpol que tenta expor uma grande corporação financeira a uma investigação que envolve acusações de corrupção, tráfico de armas e assassinato. Naomi Watts interpreta Eleanor, uma promotora de justiça de Manhattan que o auxilia nessa cruzada.
Como nas séries Bond e Bourne, Trama Internacional cruza o globo várias vezes. Passa por Berlim, Lyon, Milão, Nova York e Istambul. Mais que um recurso de interesse visual (novos cenários, personagens, tom...), a solução funciona a favor da história para mostrar o tamanho do problema que os personagens de Owen e Watts enfrentam. O roteiro de Eric Warren Singer coloca como vilão um banco, não um bancário (ainda que exista um burocrata central que é caçado, interpretado por Ulrich Thomsen), e esse vai e vem mundial exemplifica quão fundo chegam as ramificações da estrutura que a dupla precisa desbaratar.
Os atores oferecem ao material sua competência habitual. Owen, mais uma vez vivendo o agente turrão e passional que ele parece ter se especializado em fazer, tem mais tempo de tela. Para Watts sobram algumas cenas mais tranquilas - ela tinha acabado de ter um filho na ocasião das filmagens e tinham menos tempo disponível. É curioso como o texto não tem qualquer preocupação em desenvolver os personagens, aproveitando-se do imaginário estabelecido para esse tipo de herói do cinema. O passado de Salinger não precisa de explicação - é contado suficientemente bem sob as bolsas dos olhos de Owen.
As interações entre a dupla de protagonistas são ótimas - e o falatório investigativo não incomoda em momento algum. Esse, aliás, é um trunfo do filme. O gênero dos thrillers normalmente se obriga a manter o público tenso do início ao filme, pontuando a história com cenas de ação. Trama Internacional desacelera para desenvolver seu quebra-cabeça sem grandes pirotecnias e com interessante suspense melancólico, como se a missão fosse grande demais para ser cumprida.
Ao manter o filme nesse passo regular, Tykwer evidencia de maneira explosiva o momento que guardava na manga o filme todo. O tiroteiro no Museu Guggenheim, sequência mais intensa da produção, é um excepcional exemplo de boa coreografia, planejamento e edição. A produção foi a primeira a conseguir autorização para filmar dentro no local e aproveitou muito bem essa vantagem. Tykwer mescla com absurda habilidade cenas no local de verdade e gravações realizadas no set construído em Berlim, que replica em escala de 90% a icônica construção espiral de Frank Lloyd Wright. Templo das artes plásticas em Nova York, a estrutura recebe do cineasta, que a perfurou inteira com tiros de metralhadora, sua própria instalação conceitual: um tributo a bala da Sétima Arte.
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