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Crítica

Crítica: Um Doce Olhar

Filme turco ganhou Urso de Ouro em Berlim

19.08.2010, às 18H09.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H06

A primeira cena de Um Doce Olhar (Bal, 2010) resume bem o que veremos a seguir. Nela, Yakup (Erdal Beşikçioğlu) e seu burro aparecem lá longe, no meio da floresta, e vêm andando em direção à câmera. Em determinado momento ele sai do quadro, passando por trás da câmera, enquanto o equino continua se movendo até que apenas o seu traseiro fica presente em um canto da tela. Chega a ser engraçado tamanho naturalismo.

Um Doce Olhar

Um Doce Olhar

Yakup, vamos descobrir depois, é um apicultor da área montanhosa da Turquia que sofre com o sumiço de suas abelhas e parte para o meio da floresta atrás de novas colmeias e mel, daí o nome original do filme, Bal, que quer dizer mel em turco. O projeto é o terceiro da trilogia de Yussuf, que foi feita em ordem cronológica inversa. Cada um dos filmes foi exibido em um grande festival europeu. Yumurta (Ovo) estreou em Cannes em 2007. Süt (Leite) teve sessões em Veneza, em 2008. E Bal acabou ganhando o Urso de Ouro em Berlim neste ano.

Um Doce Olhar é o típico filme de festival, lento, contemplativo, econômico. Praticamente não há trilha sonora que não seja o barulho do vento batendo nas árvores, a água da chuva nos telhados ou passos do menino Yussuf (Bora Altaş) andando pela lama no seu caminho para a escola. Poucos também são os movimentos de câmera, que prefere se manter parada pegando o cenário real a acompanhar os personagens.

Mas o filme tem Yussuf, um menino em idade pré-escolar, aprendendo a ler e escrever. O diretor Semih Kaplanoglu, que já trabalhou como publicitário, sabe o quanto uma criança pode amolecer os corações do público - e de um júri de festival - e acertou em cheio ao escolher o menino Bora Altaş. O garoto lança orgulhosos olhares em direção ao seu pai, ignora os apelos de sua mãe e sofre com veracidade impressionante na hora da leitura da escola, cercado por risos dos colegas da classe que o levam a gagueira, silêncio e solidão.

O filme não se apega muito a simbolismos, sendo bastante transparente no quanto um simples copo de leite pode significar o amadurecimento de uma criança. E ao mesmo tempo também não se prende apenas ao mundo real, mostrando sonhos e quanto eles são importantes para o pequeno Yussuf e seu pai, a ponto de não deverem ser contados em voz alta, mas apenas sussurrados ao ouvido um do outro.

Kaplanoglu, que trabalha como produtor, diretor e roteirista, começou a pensar na trilogia a partir do seu segundo capítulo (Leite), traçando então o que aconteceria no seu futuro (Ovo) e imaginando como teria sido a sua infância (Mel). E vendo agora este seu último filme, o que fica é a vontade de continuar acompanhando toda a trajetória do personagem. Esperemos agora que a distribuidora compre os direitos dos outros filmes de Kaplanoglu, mesmo que seja para vê-los em DVD.

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Nota do Crítico
Ótimo