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Crítica

Um Espião Animal

Animação satiriza franquias de espionagem de forma original e com personagens carismáticos

16.01.2020, às 19H07.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 09H47

Embora paródias de filmes clássicos de espionagem, especialmente das franquias Missão: Impossível e 007, já tenham sido produzidas à exaustão, indo de longas como Austin Powers ao primeiro episódio da nova temporada de Doctor Who, poucas conseguem manter o charme dos protagonistas (Kingsman, por exemplo), tornando-os apenas agentes sortudos com apetrechos engenhosos. Um Espião Animal, sátira animada produzida pela Blue Sky e primeiro filme dos diretores Nick Bruno e Troy Quane, traz um novo olhar para comédias de agentes secretos, optando por manter o carisma dos personagens como o grande pilar do longa.

Na história, Lance Sterling (Will Smith na versão original, Lázaro Ramos na brasileira) é o maior espião do mundo. Basicamente um exército de um homem só, o agente do governo americano é extremamente inteligente e habilidoso, mas acaba acusado por Killian (Ben Mendelsohn) de roubar um drone assassino e se torna um fugitivo quando Marcy (Rashida Jones em inglês, Taís Araújo em português), promotora da Agência, ordena sua prisão.

Desesperado, Sterling vê como única opção pedir ajuda a Walter Beckett (Tom Holland), jovem gênio demitido pelo próprio Lance por criar apetrechos não-letais para os agentes de campo, mas que trabalhava em uma invenção capaz de torná-los “invisíveis”. Apressado para se livrar da Agência, o personagem de Smith invade a casa de Walter e, por acidente, ingere uma fórmula secreta do garoto, transformando-se em um pombo.

Em menos de quinze minutos de filme, Um Espião Animal estabelece de maneira competente seus personagens e expõe suas qualidades e limitações. Sterling, acostumado a trabalhar sozinho, age sempre por instinto e raramente dá atenção à opinião alheia. Carinhoso, porém recluso, Walter não sabe lidar com a companhia constante de Lance e tenta até demais se aproximar do agente-pombo.

Essa dinâmica dos dois, que une os gêneros de espionagem com uma comédia buddy cop, dá a graça ao filme, especialmente pela boa escrita do roteiro e pela animação, que, além de ótima, mantém características físicas dos dubladores, fazendo com que Smith e Holland pareçam presentes na tela, assim como Jones e até mesmo Rachel Brosnahan, cuja personagem, a mãe de Walter, aparece por poucos segundos. Esse cuidado dos animadores, que também não pouparam piadas visuais, como manchas de poeira toda vez que Lance-pombo bate em um vidro ou que Olhos (Karen Gillan) registra algo com seus óculos tecnológicos, eleva ainda mais a experiência do filme.

Embora o roteiro de Brad Copeland e Lloyd Taylor tenha alguns problemas de continuidade, especialmente em seus cinco minutos finais, o fato de o texto evitar piadas fáceis e batidas em filmes infantis traz um frescor em relação a animações que confundem humor com sons de flatulência. As risadas de Um Espião Animal são criadas muito por conta do bando de pombos, formado por Amore, Jeff e Olhos Doidos, que, cada um à sua maneira, tentam agradar Sterling e Walter. Cada piada, mesmo o momento em que Lance bota um ovo, tem seu lugar na trama, não distraindo o público da história.

O grande problema da animação são seus vilões genéricos. Enquanto Killian simplesmente quer exercer vingança por uma missão de Sterling que deu errado, o enorme traficante de armas Kimura (Masi Oka) não apresenta a menor ameaça a Lance e Walter, sendo rapidamente neutralizado pela Caneta Multifuncional – o deus ex machina mais engraçado do cinema – criada pelo jovem. Embora a batalha contra Killian resulte em uma bela cena de ação, em que até os pombos têm papel importante, o personagem em si é completamente vazio e sua simplicidade não combina com o bom desenvolvimento do longa.

Inocente, charmoso e divertido, Um Espião Animal traz para os cinemas um novo olhar para paródias de filmes de espionagem. Com animação bem feita e personagens desenvolvidos de maneira natural, o longa é uma estreia de respeito para Bruno e Quane e mostra quem nem toda sátira precisa retirar o carisma e charme de seus protagonistas.

Nota do Crítico
Ótimo