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Crítica

Crítica: Uma Família

Tendência dinamarquesa ao melodrama se intensifica em filme sobre escolhas

29.09.2010, às 13H59.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 20H03

Assim como os dinamarqueses (pelo menos os que vemos no cinema), que falam o que pensam sem se importar com mal-entendidos, Uma Família (En Familie, 2010) a princípio parece que está nos testando.

uma família

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en familie

O filme da diretora Pernille Fischer Christensen (Além do Desejo) começa com um jovem casal dinamarquês, ele artista plástico e ela dona de galeria, recebendo uma proposta de emprego em Nova York. A seguir, os créditos iniciais narram a história da família da moça, três gerações de padeiros que hoje fornecem o café-da-manhã da família real da Dinamarca.

Pronto, está montado o cenário para um conflito de gerações, os velhos padeiros e os jovens artistas, artesanal versus industrial, família versus individualismo. Mas não é só. A personagem no centro da trama, Ditte (Lene Maria Christensen), de repente engravida. E Uma Família, que com cinco minutos já estava plenamente manjado, adiciona mais um dilema à massa: além de escolher entre a Dinamarca e Nova York, entre o passado e o futuro, enfim, Ditte terá que optar entre a carreira e a maternidade.

Mas espere. Tomadas essas decisões, logo vem outra questão. O pai de Ditte, Rikard (Jesper Christensen, de Cassino Royale), o velho dono da padaria, descobre que retornou o seu câncer. Se Ditte já parecia ver resolvidos seus embates 8 ou 80, voltamos à estaca zero com mais um. Sempre cabe mais um. Uma Família é aquele tipo de filme em que tudo está sempre à beira de ruir, e o espectador que não esperar na defensiva será carregado junto.

Mesmo para os padrões do cinema dinamarquês pós-Dogma 95, acostumado aos melodramas sem meias palavras, Uma Família é um teste de resistência. Pernille Fischer não tem o talento de sua compatriota mais célebre Susanne Bier, ambas não são muito chegadas numa sutileza, mas eventualmente Uma Família recompensa os mais resistentes (ou os teimosos). Quando a discussão pesada de temas delicados assenta, o filme se encontra.

No fim, não trata-se de uma obra para condenar ou defender o aborto, para louvar a tradição ou a mudança, mas para refletir sobre a morte. Tudo acaba um dia, como dizem, seja um feto mal formado ou uma marca centenária. O tempo que Uma Família reserva para os seus lutos pessoais, para toda a cerimônia que envolve o pesar íntimo e coletivo, deixa claro que o importante não é a decisão a tomar, e sim encarar com seriedade e respeito esse momento da escolha.

Nota do Crítico
Bom