Filmes

Crítica

O Urso do Pó Branco é Sessão da Tarde temperada com tripas e miolos estourados

Com ar de produção B dos anos 1980, filme reúne terror, suspense e comédia para criar um passatempo que choca e entretém

31.03.2023, às 16H04.

Pablo Eskobear. Não, a grafia não está errada. Esse não é o famoso chefe do cartel de Medellín, mas sim um urso-negro que, com perdão do meu latim, ficou muito louco de coca em 1985. Além da inspiração para o apelido, o animal divide outras duas características em comum com Escobar mais famoso: ambos existiram e inspiraram produções audiovisuais a partir de sua história.

Estreia nos cinemas nesta semana o longa-metragem O Urso do Pó Branco, dirigido por Elizabeth Banks (do reboot de As Panteras) e livremente baseado na trajetória de Eskobear em um parque do sul dos Estados Unidos. A diferença? Na vida real o coitado do animal morreu de overdose, já o filme usa o incidente como ponto de partida para uma mistura de terror, suspense e comédia ácida. 

Tudo começa quando um traficante atrapalhado que precisava despejar uma grande quantidade de cocaína de um avião para ser depois recuperada na área da floresta natural. Acontece que o tal meliante bate a cabeça e morre com a queda da aeronave - e a droga é encontrada por urso-negro, que fica tão chapado pelo “bagulho doido” quanto um gato vidrado em catnip.

O resultado? Um bicho assassino de 80 quilos com mais energia que Itaipu, trucidando todo mundo que vê pela frente enquanto procura mais pó branco para se saciar. 

Nesse caminho, Eskobear encontra os nossos heróis, digamos assim. De um lado, duas crianças que resolveram matar aula para desenhar no parque natural, Dee Dee (Brooklynn Prince) e Henry (Christian Convery) - e ambos são procurados pela mãe da menina, Sari (Keri Russell). Do outro, Eddie (Alden Ehrenreich) e Daveed (O'Shea Jackson Jr.), traficantes que estão tentando resgatar a droga a mando do chefão Syd (Ray Liotta). 

Entre eles há ainda o detetive de polícia Bob (Isiah Whitlock Jr.), a guarda florestal Liz (Isiah Whitlock Jr.), o especialista em animais Peter (Jesse Tyler Ferguson) e um trio de delinquentes que inferniza a vida dos frequentadores do local (Aaron Holliday, J.B. Moore e Leo Hanna).

Para contar a trajetória desses personagens, Banks se deixa levar pela energia juvenil e dos anos 1980, dobrando a aposta para cima de um enredo tão surreal. Tudo ganha o ar de uma produção B de antigamente, ainda que o urso-negro seja inteiramente (bem) feito em computação gráfica. Isso em parte graças ao roteiro, escrito por Phil Lord e Christopher Miller - os mesmos por trás de Homem-Aranha: No Aranhaverso e Uma Aventura LEGO.

Enquanto isso, a cineasta vai tentando encontrar o seu estilo como diretora. Este é o terceiro longa-metragem dela na função (depois de A Escolha Perfeita 2 e o As Panteras de 2019), e Banks parece dividida entre a função de entregar uma produção de estúdio e a necessidade de imprimir a sua voz ali.

Ela finalmente atinge o seu objetivo lá no terceiro ato, lá pelos 30 minutos finais, quando o filme desliga a chave do terror e passa a focar mais na trajetória emocional de seus personagens. Por trás de todo o sangue e humor ácido, há uma lição sobre família, união e força. 

Por tudo isso, fica complicado julgar O Urso do Pó Branco como arte cinematográfica. Não dá para ficar aqui jogando um monte de palavras difíceis e de análises rebuscadas para revelar o quanto o crítico entende mais que a diretora. Está mais uma brincadeira, uma diversão, um passatempo para chocar e rir, tudo ao mesmo tempo. 

É como se fosse algo para passar na Sessão da Tarde ou no Cinema em Casa de antigamente. Isso, claro, caso Globo ou SBT exibissem filmes com tripas para fora, membros amputados e miolos estourados no horário da tarde, para a molecada assistir enquanto engole um sanduíche acompanhado daquele achocolatado. Vocês entenderam. 

No final das contas, tem horas que precisamos justamente de entretenimentos assim. 

Agora, fica um pouco insustentável a ideia de assistir ao longa-metragem na tela grande. Ainda que a comunhão do cinema ajude no efeito coletivo da risada e do choque, simplesmente não vale o esforço (inclusive financeiro) para ver a produção no formato. Combina mais com o sofá e uma tarde chuvosa ou um domingo devagar. Ou com uma sessão de cinema em casa ao lado dos amigos, com uma pipoca com bastante manteiga.

De resto, O Urso do Pó Branco tem uma lição valiosíssima: ao encontrar o urso-negro americano, o melhor proteção é enfrentá-lo para assustá-lo. 

A não ser que ele esteja cheiradão… 

Nota do Crítico
Bom