Finalmente a paranoia pós-11 de setembro atinge o mundo de Todd Solondz. Em A Vida Durante a Guerra (Life during wartime, 2009), a sombra dos terroristas empresta um pouco mais de cinismo (se possível) às crônicas suburbanas do diretor.
A Vida Durante a Guerra
A Vida Durante a Guerra
A Vida Durante a Guerra
Como já virou tradição na filmografia de Solondz, com suas histórias entrecruzadas e ligeiramente conflitantes, este retoma os personagens do seu clássico Felicidade (Happiness, 1998), além de conversar com Bem-Vindo à Casa das Bonecas (Wellcome to the Dollhouse, 1995) e Palíndromos (Palindromes, 2004). E mais uma vez, com atores trocados - quem acompanha o diretor já se acostumou com os rostos alternativos de personagens conhecidos. Tudo parte da sua reflexão sobre histórias comuns de gente comum (no mondo bizarro dele, bem entendido).
O enredo foca novamente na família Jordan, que fora despedaçada com os abusos sexuais do pai Bill (Ciarán Hinds) em Felicidade. Anos depois, Trish (a mãe, Allison Janney) mora na Flórida com os filhos mais novos e recebe a visita da irmã riponga Joy - agora interpretada por Shirley Henderson, que consegue ser mais brilhantemente irritante do que a versão da personagem de 1998.
Joy passa o filme conversando com seus namorados suicidas, nos únicos momentos (acredite) sãos de auto-análise do filme. Trish, por outro lado tenta retomar a vida com o novo namorado Harvey Wiener (Michael Lerner, com o sobrenome importado de Bem-Vindo à Casa das Bonecas e Palíndromos). Bill, recém-libertado da cadeia, vai atrás do filho mais velho, Billy (Chris Marquette), em busca de perdão por seus instintos pedófilos. Gente normal, certo?
Pois é sobre perdão a reflexão de A Vida Durante a Guerra (assim como Felicidade era sobre o próprio título). Todos os personagens passam o tempo atrás de redenção sobre suas histórias passadas.
Com exceção do guri Timmy (Dylan Riley Snyder), filho do meio de Trish, cujas reflexões pré-bar mitzvah guiam o filme. O que é se tornar um homem? Pedófilos são terroristas? E os terroristas, podem ser perdoados? Este vai pedir remissão por algo novo, amarrando de alguma maneira as histórias dos quatro filmes envolvidos.
Naturalmente, é através do sexo que Solondz resolve suas questões. Trish, que se diz úmida pelo mero toque de Harvey, encontra uma reviravolta conhecida. Bill, lutando contra os garotinhos com que sonha, tem um encontro surpresa com a personagem de Charlotte Rampling - e ganha, de presente, um dos melhores momentos dos filmes do diretor.
Com A Vida Durante a Guerra, Solondz parece ter encerrado com um bom epílogo as pontas soltas de todos os longas anteriores. E deixa com vontade de saber o que vem por aí na sua novela, depois de tanta redenção acumulada.