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As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada | Crítica

Terceiro filme da série oferece boa aventura episódica, mas as lições de moral continuam o ponto fraco

09.12.2010, às 18H45.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 19H03

Para o leão Aslan, que não esperou o terceiro dia para ressuscitar mas tem autoridade sobre questões de metáfora cristã, o catecismo dos irmãos Pevensie está completo. O que é uma pena, porque a série de filmes As Crônicas de Nárnia, inspirada nos livros de C.S. Lewis, estava começando a engrenar.

narnia

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Obviamente, como são sete livros e em Hollywood todo eventual sucesso é imediato candidato a ter continuações, o terceiro filme, As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada (The Voyage of the Dawn Treader), não será necessariamente o último. Mas Pedro e Susana, crismados ao final de Príncipe Caspian, não voltam para esta continuação. Edmundo (Skandar Keynes) e Lúcia (Georgie Henley) reassumem o trono dos Pevensie em Nárnia mas também já não são mais crianças.

Ser criança no universo de Lewis é imprescindível - independente da leitura que se faça do seu texto, religiosa ou não - e é isso que torna a série no cinema, em seus melhores momentos até agora, tão fácil de assistir. Não há um senso de jornada, as aventuras são episódicas. Ao chegar em Nárnia, os Pevensie reabrem seu baú de "brinquedos" (espadas, arcos, vestes), reassumem "personagens" (seus postos de realeza) e o encantamento com as criaturas antropomórficas é sempre renovado (desta vez é o primo chato dos irmãos que desacredita os monstros).

É como levar os filhos para a praia, tirá-los do aborrecimento da cidade e construir castelos na areia. Nos filmes, a casa na Inglaterra não é exatamente tediosa, existe a Segunda Guerra Mundial do lado de fora, mas ela só serve de estopim para o arco do protagonista (desta vez é Edmundo, cada vez mais um sósia do Kaká, que briga para não ser tratado como criança). Nisso, todos os filmes da série são parecidos. A vantagem de A Viagem do Peregrino da Alvorada é que o espaço para a aventura episódica é bem maior.

Parte-se, afinal, de uma premissa à moda Julio Verne e Robert Louis Stevenson: existe um mar a ser desbravado e cada ilha reserva surpresas diferentes. O filme então comporta pequenos momentos climáticos do começo ao fim; a irritação com a direção burocrata de Michael Apted se dilui diante dessa diversidade. Existe a ameaça maior e sempre presente da Feiticeira Branca, mas ela não é nenhum Voldemorte. A fumacinha verde que a vilã produz até tem seu charme quando vista com uma cópia 3-D convertida do filme, como foi meu caso.

O único problema é que sempre esse descompromissado faz-de-conta tem que vir acompanhado das lições de moral. De certo modo, é incontornável: qualquer aventura de ilha perdida exige que o herói, num ambiente despojado de alternativas, vença seus próprios limites. Mas a forma como os filmes da série apresentam dilemas é muito amadora, às vezes arbitrária. É como se Lewis e seus adaptadores tivessem a ambição de transformar o material leve que têm à disposição em uma reflexão profunda, valorosa, grave e adulta. Não precisamos de outro Harry Potter, precisamos?

Classificando os três Nárnias, então, num critério de lições/diversão, A Viagem do Peregrino da Alvorada fica com a medalha de prata. Não tem a unidade do segundo, cujo equilíbrio entre os dois pólos é o mais próximo do ideal, mas também não castiga o espectador como o primeiro, que é uma verdadeira palmatória em forma de filme.

Assista a seis cenas do filme
As Crônicas de Nárnia | Horários e cinemas

Nota do Crítico
Regular