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Crítica

Depois do Universo usa brilho para trazer novidade a gênero de romance teen

Boa química entre a cantora Giulia Be e Henry Zaga não é suficiente para carregar o longa

27.10.2022, às 18H50.
Atualizada em 31.10.2022, ÀS 11H51

Romances centrados na saúde como a principal barreira - a moda que pegou depois de A Culpa é das Estrelas e em inglês é conhecida muito simplesmente por livros de “sick teen” - se equilibram sempre entre a comoção e o melodrama. Em Depois do Universo, os personagens centrais tentam carregar a trama mas nem os efeitos visuais nem os desafios da doença conseguem tirar o longa da repetição desse novo subgênero.

A produção nacional dirigida por Diego Freitas conta com a estreia da cantora Giulia Be no papel de Nina, uma talentosa pianista que sofre de lúpus, uma doença autoimune que pode atacar qualquer parte do corpo - o rim, no caso dela. Na fila por um transplante e em tratamento de hemodiálise, a jovem tem uma forte conexão com Gabriel (Henry Zaga), um dos médicos da equipe que a atende; com o apoio dele, Nina tenta superar as adversidades e conquistar o sonho de tocar na Orquestra Sinfônica de São Paulo.     

Logo no começo, vemos que os dois estão em situações bastante opostas: Gabriel é um médico otimista em início de carreira fazendo a residência em um hospital dirigido pelo seu pai. Do outro lado, Nina é impedida de tocar devido às fortes dores causadas pela enfermidade e, enquanto não encontrar alguém compatível para doar um rim, ela vive na desesperança e nas incertezas sobre seu futuro.

O filme se prende nas metáforas, como os copos meio cheios, meios vazios, e na própria compatibilidade de doação de órgãos, associada com questões de afeto.  As alegorias adoçam essa aproximação, que começa como uma relação de ajuda, depois troca de ensinamentos (ele com a bicicleta e ela com o piano) até caminhar para o esperado romance. Além do lúpus que limita Nina de tocar, ambos precisam encarar o obstáculo na profissão de Gabriel, que recusa os privilégios do nepotismo no hospital mas precisa lidar com o rigor de seu pai e a dificuldade da relação médico-paciente. 

É notável que o casal carrega uma química cativante; Zaga tem uma carreira firme com produções de Hollywood em seu portfólio, como Novos Mutantes e 13 Reasons Why, enquanto Giulia segura bem em seu primeiro papel e não deixa a desejar na atuação. Porém, o filme não sabe trabalhar de uma forma que aprofunde os personagens ao longo das suas duas horas. Coadjuvantes se prestam a reforçar o romance dos protagonistas, seja incentivando ou desafiando, mas são caricatos ou acessórios demais nessa função para que isso favoreça de fato a história dos dois protagonistas de modo efetivo. 

Apesar do trabalho de fotografia e de efeitos carregados de cores e tons fantasiosos para pintar o romance que vai “depois do universo”, as atuações rasas e o andamento lento fazem o filme perder o brilho. Uma eventual conscientização sobre a doação de órgãos (uma realidade de muitos que esperam na fila por um transplante) é esboçada como tema mas também não decola a ponto de se tornar um ponto de atração no discurso de Depois do Universo.

Neste ano se celebra uma década que A Culpa é das Estrelas chegou aos cinemas, e nesses dez anos já ficaram evidentes as limitações da narrativa dos romances teen hospitalares. Uma reviravolta ao final de Depois do Universo até traz novos ares para a trama, mas talvez chegue tarde demais para engajar o espectador numa experiência emocional de fato. O filme pode gerar um hype pelo seu elenco de estrelas ou pela canção-tema interpretada pela própria Giulia Be, mas para disputar espaço com as demais produções desse subgênero no catálogo da Netflix é provável que não seja suficiente.

Nota do Crítico
Regular