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Durante a entrevista com os produtores Paula Weinstein e Marshall Herskovitz (leia aqui), eu disse a eles que tinha achado Diamante de Sangue (Bloody Diamond, 2006) um filme de verão - cheio de explosões e correrias -, mas com um pano de fundo político. Eles não ficaram muito contentes com a minha teoria e começaram a se defender. Opa, calma lá! Não há mal algum em fazer um filmão pipoca, que tem como interesse principal divertir as pessoas. E o melhor é que o roteirista Charles Leavitt e o diretor Ed Zwick conseguiram chegar a um equilíbrio perfeito entre ficção e realidade, expondo atrocidades que aconteceram (e continuam acontecendo) no continente africano e ainda colocando na tela atores que ao mesmo tempo são bons e chamam o público para os cinemas. Antes de falar do filme, uma contextualização histórica. Em 1996, Ahmad Tejan Kabbah foi eleito o primeiro presidente civil de Serra Leoa, depois de décadas de governos militares. Em maio do ano seguinte ele foi deposto por um grupo oposicionista de militares, que logo chamaram a força revolucionária RUF para ajudá-los a governar o país. Após 10 meses, tropas nigerianas retomaram o poder, reinstaurando a presidência de Kabbah. Porém, em janeiro de 1999, a RUF voltou a atacar a capital Freetown, contra-atacados pelos nigerianos. Em julho daquele ano, Kabbah negociou para ter o líder da RUF, Sankoh, como seu vice-presidente. A paz durou até abril de 2000, quando o exército da Nigéria saiu do país e a RUF voltou a atacar, usando até mesmo os capacetes azuis da ONU como reféns, o que levou à prisão de Sankoh e outros membros da RUF que faziam parte do governo e aumentou o caos. A situação só começou a melhorar em maio, quando forças britânicas chegaram país para estabelecer a ordem, o que só aconteceu em 2002, quando Kabbah declarou oficialmente o fim da guerra civil. Para conseguir resistir tanto tempo, a RUF contrabandeava diamantes para pagar por armamento e drogas. Nesta época, a vizinha Libéria foi uma das maiores exportadoras de diamantes, sem ter minas. Para conseguir novos soldados, eles invadiam vilas, matavam pais e mães e levavam os filhos, que eram drogados e forçados a dar continuidade a este ciclo de barbáries. Assim, além de perder as vidas de milhares de civis e milhões em diamantes, o país tem hoje crianças que até pouco tempo faziam parte de um exército sem limites. Misturando verdade e ficção Ambientado em Serra Leoa (leste africano), o filme conta a história de um pescador, Solomon Vandy (Djimon Hounsou), que vê sua vila atacada por rebeldes. Ele consegue salvar sua esposa e filhas, mas vê seu filho sendo levado para se tornar um soldado. Forçado a ir trabalhar em uma mina de extração de diamantes, ele consegue achar uma enorme pedra. Enquanto tentava escondê-la, o exército local chega e leva todos para a cadeia. É lá que um traficante de diamantes, Danny Archer (Leonardo DiCaprio), fica sabendo da tal pedra e resolve ajudá-lo a salvar seu filho, desde que em troca ele fique com o raro mineral. Entre as correrias, tiros e explosões que se seguem, eles se aliam a uma jornalista estadunidense (Jennifer Connelly), que também tem o seu objetivo: reunir o máximo de informações sobre os diamantes de conflito que são contrabandeados para os países ocidentais. Com este pano de fundo sócio-político, Ed Zwick (O último samurai) constrói uma emocionante viagem de três seres humanos, seus objetivos e os meios que utilizam para alcançá-los. Além de correr e pular, DiCaprio e Hounsou têm ótimas atuações, que justificam os elogios que vêm recolhendo. Espertos com o estrago que Super Size Me causou à indústria de fast foods e em especial ao McDonalds, as empresas que manufaturam e vendem diamantes se adiantaram à estréia do filme e vem exibindo os brilhantes certificados de que suas pedras não são diamantes de conflito. Investir na África e tentar melhorar as condições de vida no continente negro, ninguém quer, né?