Em sua superfície mais externa, Dumplin parece ser apenas mais uma produção adolescente com alguns preciosos argumentos sobre aceitação. De fato ela não é revolucionária em nenhum aspecto - porém, o sentimento que passa é tão genuíno e leve que, ao subirem os créditos, é possível se pegar pensando como a vida das personagens continuará se desenrolando fora das telinhas. É um filme de camadas - e todas elas são cativantes, assim como uma obra que visa o público jovem tem de ser.
Baseado no livro de mesmo nome da escritora Julie Murphy - que inclusive faz uma brevíssima aparição -, a trama acompanha a jovem Willowdean Dickson (Danielle MacDonald), uma garota fora dos padrões que cresceu escutando e tendo como sua grande referência a cantora Dolly Parton. Tal herança foi deixada pela falecida tia Lucy (Hilliary Begley), sua grande figura materna. Diferente dela que sempre a incentivou, sua mãe, Rosie (Jennifer Aniston), por ser uma prestigiada miss e viver em uma realidade tão diferente, nunca conseguiu criar uma verdadeira ligação com a filha. Como forma de protesto, a menina decide se inscrever no concurso de beleza da cidade - o mesmo que Rosie ganhou décadas atrás.
Tendo uma temática adolescente, teria sido muito fácil se ater unicamente em discussões e plots menores. O enredo poderia ter sido focado na relação conturbada de Willow com sua mãe; na competição que o concurso oferece; ou até mesmo em uma subtrama romântica - presente mas felizmente explorada de uma forma bastante secundária. Ainda bem que tanto as roteiristas quanto a prestigiada diretora Anne Fletcher (A Proposta, Vestida para Casar) não decidiram ir pelo atalho mais simples. O enredo é sobre a jornada de aceitação de Will e suas amigas.
Um dos pontos mais interessantes da obra é que ela não cai em um dos maiores clichês do gênero: a polarização. As meninas que querem de fato participar do concurso e representam os maiores padrões estéticos não são tratadas como vilãs. Isso não significa que o filme legitime o bullying de forma alguma, mas passa a ideia que o mais importante é aceitar a condição de cada um, não importando nenhuma característica física, e buscar ser feliz consigo mesmo. Esse discurso é bem incorporado pela personagem Ellen Driver (Odeya Rush), que se encaixa nesse padrão, mas não deixa de ser amiga de Will e lutar por igualdade.
O filme pode soar um tanto quanto puramente panfletário dentro de um enredo óbvio, mas, graças a atuações convincentes e sinceras, ele não se limita a isso. Não seria uma surpresa caso a australiana Danielle MacDonald começasse a ganhar cada vez mais espaço em grandes produções. A atriz de 27 anos entrega uma protagonista tão leve quanto o enredo, mas não por isso rasa. Sua interpretação transborda sentimento e oferece um contraponto a altura da já prestigiada Jennifer Aniston. Vivendo a mãe de Will, é brilhante como a antiga estrela de Friends enaltece tudo que toca, misturando atuações dramáticas com um viés cômico. A relação das duas oferece algumas das melhores cenas e, assim como em A Proposta, principal trabalho da carreira da diretora, não é errado dizer que a dupla de intérpretes alavanca o filme para um outro patamar - muito melhor do que atingiria por si só.
Lado a lado com as atuações, outro ponto merece destaque: a trilha sonora é inteiramente composta pela maior expoente da música country mundial, Dolly Parton. Ao mesmo tempo que suas músicas costuram e engrandecem a narrativa, as letras trazem mensagens de autoconhecimento e empoderamento feminino, sendo utilizadas pelas personagens como mote incentivador de cada ação. Como a história se passa em uma pequena cidade do Texas, um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos, a escolha pela presença de Parton é uma crítica por si só. Embora a cantora não apareça, sua essência é muito bem representada pelo núcleo drag queen, que funciona no melhor estilo Queer Eye, dando conselhos e sendo um dos pilares de Willow e suas amigas. Aliás, não teria feito mal nenhum uma aparição do Fab 5, não é mesmo?
Embora não seja um divisor de águas no mundo dos dramas adolescentes, Dumplin é sem dúvida um ótimo entretenimento e entrega sua mensagem com eficácia. Assim como diria Dolly Parton, descubra quem você é e seja você mesmo de propósito. Tendo isso em mente, o sorriso de satisfação ao final do longa vem de forma natural.