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Dylan Dog e as Criaturas da Noite | Crítica

Adaptação indefensável deturpa a obra de Tiziano Sclavi e, de lambuja, afronta o cinema

11.08.2011, às 19H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H36

Criada em outubro de 1986 pelo roteirista Tiziano Sclavi, Dylan Dog foi a primeira série de terror da Editora Bonelli, uma das mais consagradas dos quadrinhos italianos, responsável por Tex e Zagor, entre outras.

Dylan Dog

Dylan Dog

Dylan Dog

O "Detetive do Pesadelo", que foi publicado em mais de uma ocasião no Brasil, tem como diferencial as investigações ligadas ao sobrenatural com uma ambientação ora surrealista, ora opressiva e um tanto poética - características alternadas por um humor pungente.

A temática renderia um excelente suspense sobrenatural, mas os roteiristas Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer (Sahara) optaram pela datada abordagem "anos 80/90" para a adaptação live-action da obra. Assim, Dylan Dog e as Criaturas da Noite (Dylan Dog: Dead of Night, 2010) ignora a base estabelecida de fãs e recria o personagem usando apenas seus traços mais característicos, pasteurizando sua essência.

Interpretado por Brandon Routh (Superman: O Retorno), o personagem é transportado de Londres para New Orleans (ideia muito parecida com o que aconteceu com Constantine) e é transformado em um investigador que auxilia as criaturas da noite, espécie de embaixador da paz entre lobisomens, vampiros e zumbis (?). Como se a deturpação não fosse suficientemente ofensiva aos fãs, o longa é muito mais interessado na ação (que não entrega com qualidade), em referenciar True Blood e na comédia do que no suspense ou fidelidade à HQ. É a Platinum Studios tentando recriar o sucesso de seu Homens de Preto com a propriedade intelectual errada.

Lamentavelmente, o parceiro de Dylan, Groucho, também não teve vez na adaptação. Alegando que não conseguiram os direitos para usar o visual e os trejeitos de Groucho Marx, a produção optou por um auxiliar genérico, Marcus (Sam Huntington, também de Superman), um morto-vivo em crise que cumpre o papel de alívio cômico do filme. Seria até uma troca divertida, não fosse a qualidade lastimável do texto. A trama criada por Donnelly e Oppenheimer (que com esse nome só poderia ter escrito uma bomba mesmo) é aleatória, com encontros casuais guiando a trama e momentos de puro "deus ex-machina", inexplicáveis. É primário o texto.

Na direção, o decente Kevin Munroe (Tartarugas Ninja - O Retorno) não tem muito o que fazer com tal guia e lhe falta poder (e experiência) para efetivamente recolocar o trem nos trilhos. A fotografia é razoável, mas quando entram os efeitos especiais fica evidente o baixo orçamento. Os monstros e criaturas borrachudas parecem saídos de algum filme dos anos 80... especialmente o demoníaco Belial, que lembra o monstro de O Rapto do Menino Dourado.

Completa a extensa lista de equívocos um elenco de dar dó. Routh está completamente inexpressivo e monocórdico, Huntington parece histérico (ri-se de uma ou duas piadas) e à mocinha Anita Briem (a Jane Seymor de Tudors) cabe o pior papel e uma risível reviravolta. Taye Diggs consegue escapar com alguma dignidade, mas a isso atribuo os caninos de ouro - a única ideia realmente interessante do filme.

Dylan Dog e as Criaturas da Noite é indefensável. O tipo de filme que, quando enfim termina (se você conseguiu chegar ao final), desperta o debate sobre o quão estúpido pode se tornar o cinema pop quando deixado nas mãos de produtores que tentam martelar em fórmulas fáceis o que torna a obra original algo tão especial.

Já passou da hora dos estúdios entenderem que não é um uniforme colorido (ou no caso de Dylan Dog a camisa vermelha, blazer preto e calça jeans) que faz o herói. Uma adaptação assim é um retrocesso em todos os sentidos e algo extremamente prejudicial para o mercado, para o fã e seus criadores. E considerando que a dupla de roteiristas também escreveu o regular Cowboys & Aliens e têm nas mãos os inéditos Conan - O Bárbaro, Uncharted e Doutor Estranho, só nos resta esperar também pelo pior no que tange ao destino cinematográfico desses personagens.

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Nota do Crítico
Ruim