Depois de iniciar com um trailer frenético e explosivo, de um filme fictício dentro da trama, Entrando Numa Roubada segue com uma narração idêntica a de 2 Coelhos. Júlio Andrade (Estrada 47), interpretando o rancoroso Eric, usa sua voz cavernosa em um ritmo lento para narrar um plano que deveria parecer complexo e surpreendente.
Na trama, o trailer é de um filme de roubo a banco que foi um sucesso fenomenal. No entanto, depois da estreia, o produtor Alex (Marcos Veras) abandonou o barco, os atores (Deborah Secco, Bruno Torres e Andrade) não conseguem outros papéis e se sustentam com trabalhos medíocres enquanto o diretor Walter (Lúcio Mauro Filho) enfrenta problemas psicológicos.
Vitor (Torres), protagonista do filme fictício e roteirista de mão cheia, ganha R$100 mil em um concurso para produzir seu novo roteiro - Aceleração Máxima. Ele tenta reunir a antiga equipe, mas enfrenta resistência diante da falta de recursos. Ai que entra o plano oportuno de Eric (Andrade), ator no filme anterior e atual vendedor de muamba: ele é o único que percebe que Alex sumiu do mapa com o lucro que deveria ter sido dividido, assim, Eric finge usar o roteiro de Victor como um atalho para se vingar do ex-produtor.
O novo filme dentro da trama, Aceleração Máxima, faz algumas referências a Mad Max - Estrada da Fúria, já que o vilão seria um poderoso dono de postos de gasolina, chamados Joe Joe, e a heroína é uma mulher forte e determinada (Secco) que dirige pelas entradas arenosas em busca de vingança.
Entrando Numa Roubada começa intrigante e envolve o espectador com boas tomadas, cortes dinâmicos e a trilha sonora coroa o ritmo do filme - o que era de se esperar, afinal o diretor estreante André Moraes trabalhava antes como compositor e foi o responsável por trilhas sonoras de filmes como Lisbela e o Prisioneiro, entre outros.
O problema é que da execução do filme de Vitor em diante, a sátira do gênero de ação começa a enveredar para uma comédia de absurdos. Não é que os subgêneros sejam conflitantes mas, no longa de Moraes, eles não se encadeiam com harmonia.
Sem muita engenhosidade, Eric toma as rédeas da tal produção, que começa a ser filmada com apenas duas câmeras GoPro, sem recorrer nem ao menos às engenhocas de cano pvc e iluminação improvisada que justificariam um filme amador e de baixo custo, mas com um mínimo de senso de realidade. Além disso, os protagonistas devem assaltar postos de gasolina de verdade enquanto pensam que tudo é só encenação e Eric recolhe o dinheiro.
A inocência cega dos atores que, diante de tantas falhas, ainda acreditam que estão fazendo uma grande obra de arte, beira o ridículo. Enquanto isso, Walter alucina a cada vez que toma seu calmante em cenas que apesar do tom cômico não contribuem para a trama e nem fazem de Walter um personagem mais esférico.
Apesar das pontas soltas e perdidas, Moraes não faz feio em sua estreia. O pastor de Veras se torna o destaque cômico e, no geral, Entrando Numa Roubada tem um bom timming, conseguindo encadear bem a evolução da trama até o clímax. No entanto, as motivações e todo o contexto dos personagens são rasos, como numa alegoria que satiriza o gênero de ação e que justifica a loucura dos indivíduos pelo desespero de cada um em sua mediocridade. Mas falta uniformidade no tom, que combina a seriedade complexa com o total desprendimento de tentar parecer real, faz com que o longa tome forma sem peso e relevância.
Parece que, ao contrário da trama, na qual Vitor é um roteirista de mão cheia sem atores, câmeras e estrutura para fazer seu filme, na vida real, o elenco excelente e a produção de ponta tropeçam no roteiro desamarrado.