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Falta personalidade a Eragon (2006). Como a própria data de lançamento já deixa bem claro, o filme quer muito ser O Senhor dos Anéis. Quer também pegar uma carona em Star Wars. E até de Harry Potter ele tenta tirar uma casquinha. Ao copiar dos outros, o longa perde qualquer chance de estabelecer sua própria identidade e até mesmo de conquistar o carinho dos fãs, que levaram o livro ao primeiro lugar na lista do New York Times, desbancando justamente o bruxinho de Hogwarts.
Quer uma prova? Então vou tentar explicar a história usando outras palavras. Luke Skywalker, digo Eragon (o estreante Edward Speleers), é um órfão criado pelo tio. Assim como Neo (de Matrix, claro), ele é O Escolhido e acha uma enorme pedra, que na verdade é um ovo de dragão. Depois de uma batalha de brincadeira com seu primo no celeiro (versão resumida da que acontece entre Jack Sparrow e Will Turner no primeiro Piratas do Caribe) ficamos sabendo que Darth Vader, ops Galbatorix (John Malkovich, que não é um dos indestrutíveis gauleses da aldeia do Asterix), controla o mundo mágico de Algaësia (uma espécie de Terra-média sem Tom Bombadil). Assim como Voldemort e o próprio Anakin ele já foi do bem, mas traiu todo mundo e trilhou seu caminho em direção ao lado negro da "força". Quem conta estes episódios e inicia Eragon nas técnicas jedi, quero dizer técnicas de Cavaleiro de Dragão não é Obi-Wan Kenobi, mas sim Brom (interpretado por Jeremy Irons, um inglês menos imponente que Sir Alec Guinness). Tem ainda a princesa elfa, que não é a Arwen imortalizada por Liv Tyler, mas sim Arya feita pela igualmente linda Sienna Guillory. E não podemos esquecer da batalha final, que poderia acontecer em Minas Tirith, mas na verdade rola em Farthen Dûr, a fortaleza dos Varden. Neste clímax, os Urgals (com certeza primos dos orcs da Terra-média) são liderados pelo bruxo Durza (Robert Carlyle), uma patética mistura de Saruman com qualquer servo do Voldemort.
Deu pra entender o que eu quero dizer, né? Pegue tudo o que deu certo nos cinemas recentemente no gênero de fantasia, bata no liquidificador e presto! A diferença deste filme para uma sátira como Todo mundo em pânico é que ele se leva a sério. O diretor Stefen Fangmeier acha que está criando algo realmente novo, mesmo tendo consciência que sua estréia no cinema não passa de uma colagem das idéias dos outros. Vindo da Industrial Light and Magic, onde trabalhou por anos como supervisor de efeitos visuais, e com a experiência de duas direções de segunda unidade, Fangmeier erra o compasso junto com o roteirista Peter Buchman. Tudo no filme acontece muito rápido. Com apenas 104 minutos, eles não conseguem contar de forma convincente a história de um garoto de 17 anos (eram 15 no livro, nós sabemos) que, de uma hora para outra, se descobre a maior e última chance para acabar com um reinado de tirania. Seu treinamento se resume a uma rápida luta com pedaços de pau contra Brom e decorar algumas palavras mágicas. Isso sem contar o Dragão, que apesar de ser a única coisa realmente legal do filme, passa de filhote a adulta assim que aprende a voar. Santa metamorfose, Batman!
Então Eragon é o pior filme do ano? Não! (Sempre tem a Xuxa, lembra?) Os 120 milhões de dólares foram muito bem gastos e recriam o mundo imaginado pelo recém-adulto Christopher Paolini. O grande problema é a falta de originalidade e nem nisso podemos culpar o autor. Ele tinha apenas 15 anos quando publicou Eragon, 21 quando finalizou a segunda parte, Eldest, e atualmente trabalha no fim da sua Trilogia da Herança. Resta saber se os milhões de livros vendidos serão páreo às críticas constantes que este primeiro filme tem recebido, por parte da mídia especializada e até mesmo dos seus fãs.