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Crítica

Escobar - Paraíso Perdido | Crítica

Benício Del Toro e Josh Hutcherson fazem trabalho memorável em filme sobre narcotraficante

17.10.2014, às 17H54.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Escobar - Paraíso Perdido (Escobar - Paradise Lost, 2014) narra os últimos dias de liberdade do mais famoso líder do narcotráfico colombiano, Pablo Escobar, do infame Cartel de Medellín.

A estreia na direção do italiano Andrea Di Stefano, que também escreveu o roteiro, se inspira em fatos ocorridos em 1991, mas os extrapola, tomando como base o maior filme de máfia já feito. Como em O Poderoso Chefão, a figura de Pablo Escobar (Benício Del Toro) é uma presença vista com parcimônia, mas sentida todo o tempo. Além disso, seu tempo de tela é secundário ao de um jovem, que chega sem laços com o crime para estabelecer a relação com o público.

escobar

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Pois é justamente essa relação um dos elementos que criam o maior incômodo aqui. Com uma história totalmente latina, o cineasta precisava torná-la mais palatável para o xenófobo público dos EUA. Entra em cena então o ficcional Nick (Josh Hutcherson, de Jogos Vorazes), um canadense que começa a namorar a sobrinha de Escobar (Claudia Traisac). Esperava-se alguma resistência do capo das drogas por um estrangeiro na família ou coisa assim, algo que iria ao encontro ao seu discurso populista, mas nada disso é sequer citado. Um jovem latino faria muito mais sentido.

Alheio a isso, Hutcherson está ótimo no papel. Ele é versátil e tem espaço de sobra para mostrar seu talento aqui. Igualmente positiva é a alardeada presença de Del Toro como Pablo Escobar. O ator, que já fez excelentes mafiosos no cinema, vai do carismático e cativante ao monstruoso e calculadamente vil em minutos na pele do narcotraficante. Não imagino outro ator que ficaria tão bem no papel (se você pensou em Javier Barden, seu irmão, Carlos, tem papel importante no longa).

Di Stefano dirige com segurança, mas o filme tem seus altos e baixos. A desnecessária busca por uma imagética religiosa parece colocada ali apenas para estabelecer um paralelo com o título do filme, Paraíso Perdido, também o nome da obra mais conhecida do poeta Milton. Como no livro, o filme mostra seu "Lúcifer" sob uma ótica simpática - algo que não tarda a mudar. A religião, obviamente, também está muito presente em O Poderoso Chefão, mas aqui é meramente alegórica.

Já os altos de Escobar - Paraíso Perdido incluem uma excelente sequência de tensão quando o filme se aproxima de seu desfecho. Hutcherson segura essas cenas sem Del Toro e Di Stefano mostra que sabe como construir suspense.

A violência é outro fator interessante, pois como estamos sempre com uma visão periférica ao império do crime, quando os tiros começam a voar, o resultado é poderoso. Cada morte é verdadeiramente sentida, sem que jamais nos acostumemos a elas. A violência jamais é fetichizada ou gratuita. E com o legado sangrento de Pablo Escobar, isso é um tremendo elogio a este Paraíso Perdido.

Nota do Crítico
Bom