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Crítica

Esquema de Risco - Operação Fortune é diversão pura, simples e sensual

Sem vergonha da sessão-pipoca, Guy Ritchie faz seu melhor filme em quase dez anos

Nico
12.07.2024, às 12H25.

Conhecido por seus filmes de gângster e ação, Guy Ritchie perdeu um pouco da boa vontade do público na segunda metade da década passada após uma sequência de trabalhos que variavam de genéricos, como o live-action de Aladdin, a péssimos, como Rei Arthur: A Lenda da Espada. Depois de ensaiar um retorno à sua boa forma com Infiltrado, de 2021, o diretor confirma essa retomada com o divertidíssimo Esquema de Risco - Operação Fortune, uma mistura de filme de assalto e comédia de espião cheio de adrenalina, piadas de duplo sentido e porradaria franca.

Claro, quem espera por um filme que mude nosso olhar sobre cinema provavelmente se decepcionará. Fugindo da responsabilidade de competir com a grandeza de Avatar: O Caminho da Água ou a beleza de Pinocchio de Guillermo Del Toro, Ritchie se contenta em criar 114 minutos de entretenimento simples, mas empolgante, que se apoia nos principais talentos do elenco comandado por Jason Statham. O resultado é uma sessão pipoca satisfatória e muito mais honesta que muitos blockbusters por aí.

O melhor de Esquema de Risco está em sua obviedade. Conforme prometido pela campanha de divulgação, Statham sai no braço com capangas maiores que ele e, guiado por uma irônica Aubrey Plaza, tenta impedir que o charmoso traficante de armas de Hugh Grant fique ainda mais bilionário com a venda do MacGuffin misterioso da vez. Confortável na proposta lúdica e nessa simplicidade, o elenco tem espaço para jogar com a autoironia.

Grant, por exemplo, mantém a performance exagerada, mas não menos incrível, que fez dele um ótimo vilão em As Aventuras de Paddington 2 quase seis anos atrás, enquanto Statham arranca risadas ao abordar cada sequência de luta com uma naturalidade quase sarcástica. Já Plaza rouba a cena com uma de suas personagens mais ácidas desde o fim de Parks and Recreation. Após grandes trabalhos dramáticos em Black Bear, Emily the Criminal e White Lotus, a atriz volta às suas raízes cômicas com trocadilhos, ironias e muito carisma, que ajudam até o mediano Josh Hartnett a entregar uma de suas melhores atuações em anos.

Esquema de Risco é também extremamente sensual - característica que, convenhamos, tem desaparecido cada vez mais dos filmões de ação. Seja ao mostrar Hartnett, Plaza e Statham trajando roupas de gala em câmera lenta ou em passeios de carro por cenários paradisíacos, Ritchie filma cada cena com um olhar provocante, tornando até o clássico monólogo de vilão do terceiro ato uma sequência quase erótica. Sem vergonha no melhor sentido da expressão, o roteiro cheio de flertes e frases sugestivas, assinado por Ritchie, Ivan Atkinson e Marn Davies, contribui para essa atmosfera sexy que domina o longa desde seu primeiro segundo.

Assim como o bom trabalho de seu elenco, o tesão que permeia Esquema de Risco faz com que seja fácil perdoar a previsibilidade de sua história. De certa forma, pouco importa a certeza de que os mocinhos vencerão no final sem sofrer um arranhão sequer ou que a traição que baseia a grande reviravolta do longa seja telegrafada com um simples diálogo no início do segundo ato. Isso porque Ritchie, Atkinson e Davies entendem como chamar e prender a atenção do público, que se diverte com a viagem explosiva proposta pelo trio.

Melhor trabalho de Ritchie desde o subestimado O Agente da U.N.C.L.E., Esquema de Risco é a diversão despretensiosa que tanta falta faz no mundo das grandes franquias e uma bem-vinda volta por cima para a carreira do cineasta.

Nota do Crítico
Ótimo