Estrada 47 se passa na Itália durante a Segunda Guerra Mundial e conta a história de quatro pracinhas e um jornalista que estão presos em uma montanha, próximos a um vilarejo. A única via de entrada e saída da região é a estrada do título, mas ela está completamente minada. Tanques americanos tentam liberar a passagem, sem sucesso, e cabe a um batalhão de brasileiros abrir caminho desativando as bombas - só assim será possível levar ajuda à população do vilarejo.
O filme, escrito e dirigido por Vicente Ferraz, aborda o medo dos soldados brasileiros, que se sentem alheios às causas da guerra e, à parte a tarefa potencialmente suicida, têm de lutar contra o rigoroso inverno europeu. A narração de Guima (Daniel de Oliveira) descreve a situação através de uma carta que ele escreve a seu pai, mas no fundo ele retrata os questionamentos e as impressões dos soldados como um todo. Os cinco protagonistas se desenvolvem bem, assim como os coadjuvantes estrangeiros. Richard Sammel (Bastardos Inglórios, A Vida é Bela) enriquece o elenco interpretando um general alemão aprisionado pelo grupo de brasileiros e sua relação com Piauí (Francisco Gaspar) desencadeia momentos emblemáticos na trama.
A modesta participação do Brasil na Guerra é mostrada de maneira coerente. Afinal, a ajuda da FEB, mesmo tendo sua importância, não foi de extrema relevância em grandes batalhas e o número de pracinhas era muito pequeno comparado a outras tropas. Sendo assim, a escolha de Ferraz por contar essa pequena história de heroísmo tem em si uma carga dramática muito particular. A trama consegue enaltecer o papel dos soldados brasileiros e, ao mesmo tempo, mostrar sua invisibilidade.
Carlos Arango de Montis, diretor de fotografia, faz um bom trabalho com as paisagens da montanha de gelo, e usa muito bem a estética da luz natural em ambientes fechados. A sonoplastia também é um ponto forte. No entanto, Ferraz aproveita pouco do potencial de seu elenco. Enfrentar dias ao relento na neve é uma dificuldade tanto para os personagens quanto para os próprios atores. O retrato dos percalços dos pracinhas poderia ser mostrado de maneira muito mais tocante se Ferraz não pulasse as cenas do processo de desgaste e se contentasse em ir direto para qualquer momento em que eles possam, sentados, expressar o cansaço verbalmente.
Por ser um raro filme de Segunda Guerra baseado em fatos e produzido pelo Brasil, Estrada 47 provoca interesse. Talvez o principal acerto de Ferraz seja saber de suas limitações. Ele não recorre a cenas grandiosas com centenas de figurantes, nem se arrisca em cenas de ação mais elaboradas. Em plano bem aberto, ele consegue impactar o espectador mantendo a destruição à distância. Mas o excesso de zelo é também seu maior tropeço. Ao evitar o aprofundamento dos personagens, o diretor perde boa parte da subjetividade e da emoção que o elenco poderia acrescentar ao filme.