Frances Ha, filme dirigido por Noah Baumbach (A Lula e a Baleia), que também escreveu o roteiro ao lado da atriz principal, Greta Gerwig, é uma agridoce história contemporânea sobre as novas relações que se estabelecem nas grandes cidades.
Frances Ha
Frances Ha
A personagem-título, a desconectada Frances, tem em sua inseparável melhor amiga a desculpa ideal para evitar o chamado da vida adulta: fazem tudo juntas, falam mal dos outros, frequentam as mesmas festas e até dormem na mesma cama. BFF's colegiais, que dividem diariamente seus sonhos e não deixam nenhum homem interferir nesse amor ("somos como duas lésbicas casadas há muito tempo, que não fazem mais sexo").
Quando Sophie, a amiga, decide sair de casa, aproveitando uma vaga na rua em que sempre quis morar - só que com outra colega de quarto - Frances se vê forçada a dividir um apartamento com estranhos. Não demora, porém, para adequar-se, como é da sua natureza, à nova situação. Mas sua vida está longe de se estabilizar, com o filme acompanhando-a em uma bem-humorada jornada de regressão e atos impensados.
Baumbach e Gerwig criam diálogos honestos e engraçados e uma personagem adoravelmente atrapalhada, como uma adolescente, algo que reflete seu desinteresse em crescer. "Tenho dificuldade de deixar o lugar em que estou", justifica Frances sobre o seu atraso para sair do camarim de uma de suas apresentações como dançarina (algo irônico para alguém pouco coordenada).
A fotografia em preto e branco do filme - que tem produção da brasileira RT Features (Heleno, Cheiro do Ralo) - dá um certo disfarce a ele, uma aura "cool", distanciando-o de outras produções sobre o mesmo tema e deixando claro que há mais sob a superfície do que uma "sit-com" longa-metragem (a própria protagonista faz piada com isso). Ao final, Frances Ha trata de maneira sensível e engraçada de entender suas forças, do momento difícil em que é preciso aceitar que seus sonhos talvez não se concretizem e, sem se abater, encontrar novos.