Se Quase Famosos trocasse o rock dos anos 70 pelas bandas indie de hoje, e adaptasse o jornalismo musical da época pela interação via YouTube da era do mp3, é bem possível que saísse algo como Frank (2014), a já famosa comédia que coloca Michael Fassbender escondido em cena dentro de uma cabeça de papel machê.
frank
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Assim como o repórter-mirim do filme de Cameron Crowe de 2000, Domhnall Gleeson faz aqui o nosso deslumbrado tradutor dentro do mundo dos astros do rock. Ele vive Jon Burroughs, inglês sem talentos, tuiteiro e aspirante a compositor que está na hora certa no lugar certo: o baixista da banda Soronprfbs tenta se afogar e Jon, que pelo menos sabe tocar teclado, é convidado a substituir o suicida enquanto testemunha o afogamento.
Frank é o líder da banda, um cruzamento de Thom Yorke com boneco de Olinda, sempre escondido dentro de sua cabeçorra. É com aquele tipo de ironia automática dos dias de hoje, sem maiores consequências, que o filme vai nos apresentando essas caricaturas de artista-atormentado. Quando um personagem comenta que a banda surgiu depois que Frank passou por um hospital psiquiátrico, fica difícil saber, na hora, se é só mais um falso melodrama no meio de todo o nonsense.
Demora um tanto, como um teste de paciência, mas em certo momento o diretor Leonard Abrahamson começa a esclarecer o que pretende com Frank. Como em Quase Famosos, o deslumbramento inicial dá lugar ao desencanto, para então ser substituído pela compaixão e, enfim, pelo reconhecimento. A jornada de autodescoberta de Jon Burroughs em Frank não deixa de seguir essas batidas manjadas, e até o trajeto de road movie é semelhante, em direção à cidadezinha, ao "eu verdadeiro".
Com tanta cara de comédia excêntrica e tantas promessas de imprevisibilidade, no fim, Frank termina sendo bastante familiar nas suas viradas de trama e nos seus temas. Não que isso seja um demérito em si - só torna o filme, como Frank e Jon dizem, mais palatável aos gostos do público.