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Crítica

Frankenweenie | Crítica

Tim Burton homenageia os monstros da Universal com um filme em crise

01.11.2012, às 19H37.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

A cada filme aumenta o coro dos descontentes com a suposta mesmice dos filmes de Tim Burton. Questões de gosto à parte, o lançamento de Frankenweenie permite avaliar em que medida o cinema do cineasta mudou (ou não mudou) desde o seu começo de carreira, já que o longa, além de se basear no curta-metragem homônimo que Burton realizou em 1984, é também uma variação do conto frankensteiniano de Edward Mãos-de-Tesoura (1990).

frankenweenie

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Na trama, Victor Frankenstein é um garoto de um subúrbio típico dos EUA. Prefere aulas de ciência à prática de esportes, e tem no cão Sparky seu melhor amigo. Quando uma fatalidade encerra a amizade, Victor emprega em um experimento científico o que aprendeu na escola sobre tecidos nervosos estimulados por correntes elétricas - e numa noite de tempestade faz Sparky renascer. Para azar de toda a comunidade, porém, a feira de ciências da escola está se aproximando, e os colegas de sala de Victor também decidem testar o método de Frankenstein.

A opção pelo preto-e-branco é a primeira de muitas referências ao cinema B dos anos 1930 e 1940, especificamente aos monstros clássicos da Universal. Não só Frankenstein, a Noiva de Frankenstein, Drácula, Lobisomem, Homem-Invisível, Múmia e Monstro da Lagoa Negra são homenageados em Frankenweenie de forma direta, como também os atores mais célebres do gênero (o professor é inspirado em Vincent Price, Nassor em Boris Karloff etc.). A opção pela animação em stop-motion sacramenta: mais do que um filme de artesanato, Frankenweenie é um filme de nostalgia.

A tecnologia é obviamente a principal atualização em relação ao Frankenweenie de 1984. A opção pelo 3D realça as texturas dos objetos de massa do stop-motion, e Burton usa isso, como se esperaria, para provocar estranheza: quando o gato Mr. Whiskers faz um de seus cocôs proféticos ou quando uma mosca sai de dentro de Sparky pelo pescoço. A animação dos pêlos do gato inclusive lembra a precariedade charmosa de O Fantástico Sr. Raposo - mais um aceno para o cinema artesanal e sem cinismo que Burton emula aqui.

Se Frankenweenie parece um filme deslocado ou mesmo desnecessário, apesar de todo o seu encanto, é porque a própria forma de vermos o cinema B mudou desde 1990. Naquela época, o revisionismo só começava, e o Johnny Depp bizarro de Edward Mãos-de-Tesoura de fato era um elemento estranho no subúrbio colorido do filme. Agora, é sintomático quando a mãe de Victor diz que tem medo de que o filho vire uma pessoa estranha: todos os outros alunos da escola são muito mais bizarros que ele.

Burton parece entender, em Frankenweenie, que o bizarro deixou de ser uma exceção no século 21 para virar a norma. A saída seria, talvez, jogar com essas regras. Então todas aquelas figuras sinistras que Edward esculpia no jardim em 1990 ganham vida aqui, na forma de outros monstros, para demarcar território - como se fosse preciso ativar a memória afetiva integralmente, aplicar toda uma overdose de referências, para se fazer notar neste contexto cultural de hoje, já tão sobrecarregado de revisões e releituras.

No fim é um esforço à toa? Fica difícil dizer. Frankenweenie certamente é uma melancólica homenagem aos filmes que formaram Tim Burton. É também um filme sem a pegada trágica de Edward Mãos-de-Tesoura e um produto Disney que evita tomar qualquer partido que não seja o clássico "o que pais e filhos aprenderam hoje". A grande questão, diante deste sinal de crise e de fim de ciclo, é descobrir o que vem a partir de agora.

Nota do Crítico
Bom