A Fuga das Galinhas - A Ameaça dos Nuggets (Netflix/Divulgação)

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Crítica

A Fuga das Galinhas 2 adota aventura em família com sabor de Missão: Impossível

Sequência amplifica a ação para manter energia do original mais de duas décadas depois

15.12.2023, às 12H03.
Atualizada em 15.12.2023, ÀS 17H14

O estúdio Aardman já desfrutava uma relativa notoriedade por Wallace & Gromit quando realizou em 2000 a animação A Fuga das Galinhas, um longa que marcou época não apenas pela graça do stop-motion de massinhas arredondadas, mas principalmente por harmonizar de forma invejável o teor infantil com sua trama de temas maduros. Após 23 anos, a sequência A Ameaça dos Nuggets chega com a expectativa de reforçar ou atualizar essa harmonia.

Como vemos no final do primeiro longa, após desafiar a morte e conseguir fugir da fazenda de Tweedy, a galinha Ginger finalmente encontra o lugar dos seus sonhos: um santuário em uma pacífica ilha para todo o seu bando, bem longe dos perigos do mundo humano. Agora, na sequência, ela e o galo Rocky chocam a jovem Molly - e o final feliz de Ginger parece finalmente estar próximo. Porém, fora de seu santuário isolado, as galinhas enfrentam uma nova ameaça: a produção massiva de nuggets.

A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets se organiza como uma jornada de aventura juvenil quando a rebeldia adolescente de Molly a torna protagonista. Antes de escolher entre o apelo infantil e os temas adultos, o filme opta pelo meio-termo na forma de uma divertida comédia familiar, com Ginger, Rocky e seus amigos ciscadores enfrentando perigos para salvar a filha. Os personagens retornam com a mesma personalidade que tinham nos anos 2000, mas a cautela da maternidade os faz pisar em ovos no início da trama, até que eles precisam usar suas esporas.

É uma promessa de ação, portanto, que determina os caminhos do filme, e esta continuação atualiza as tecnologias da granja e eleva o nível dos desafios enfrentados pelas galináceas. As cenas de pancadaria superam o drama e a comédia, e o novo A Fuga das Galinhas se aproxima então dos longas da fase “blockbuster” da Aardman, como Por Água Abaixo (2006), no sentido de oferecer novidade e testar os limites do exagero para atender uma demanda por frenesi. Então o surrealismo de ver galinhas com dentes já é coisa pouca diante de personagens lutando contra robôs, humanos e se colocando em situações dignas de Missão: Impossível.

Beneficia A Fuga das Galinhas não apenas o fato de o stop-motion envelhecer com muito mais dignidade do que a computação gráfica de 20 anos atrás, mas especialmente a perenidade do seu discurso contra a exploração. Com isso, fica muito fácil para quem possui empregos desprivilegiados se identificar com a causa dessas personagens. Essa conexão reforça a ideia de uma obra multigeracional, que agrada espectadores jovens e adultos sem forçar a barra para nenhum dos lados. Por essa soma de fatores, a sequência não ofusca nem agride o original. Em vez disso, ela o revitaliza e o torna ainda mais relevante.

Nota do Crítico
Ótimo