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Fúria Sobre Rodas | Crítica

Filme de perseguição segue o receituário do exploitation mas esquece o freio puxado

31.03.2011, às 18H10.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 23H00

Um ano antes de Avatar transformar o 3-D em uma obrigação, o diretor Patrick Lussier fez proveitosas experimentações com a tecnologia em Dia dos Namorados Macabro 3D. Em especial, o uso de camadas em primeiro plano, com texturas diferentes em vidros ou grades, como se o espectador tivesse diante de si uma segunda tela, em três dimensões, separando-o da tela de fato, ao fundo.

fúria sobre rodas

fúria sobre rodas

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Esse efeito funciona bem nos filmes de maníaco, em que a ocultação do agressor é essencial, e facilita também na hora de filmar, porque com objetos estáticos a medição do 3-D fica mais precisa (a cada take em 3-D é preciso recalcular o espaço entre a câmera e os objetos filmados, já que o efeito depende da distância focal). Existe nos sets até um tecnico específico para cuidar disso, o estereografista.

Assim, Lussier conseguiu dar um diferencial à sua nada brilhante carreira de montador e diretor, com produções para DVD e, até então, apenas dois longas para cinema como diretor, Drácula 2000 e Luzes do Além. O que deu certo em Dia dos Namorados Macabro, no entanto, não necessariamente funciona em Fúria Sobre Rodas (Drive Angry). Na verdade, um filme de perseguição motorizada pressupõe o oposto do efeito estático da "camada", movimento.

A bordo de um Dodge Charger 440 de 1969, John Milton (Nicolas Cage) tenta parar um culto que matou sua filha. Ele tem até a próxima Lua Cheia para impedir que os satanistas de Jonah King (Billy Burke) sacrifiquem também a sua neta. Ao mesmo tempo, Milton é perseguido por um personagem misterioso, o Contador (William Fichtner). A loira durona de shorts jeans (Amber Heard) e as várias referências - a começar pelo nome John Milton, autor do poema O Paraíso Perdido - completam o cenário ideal de exploitation, aqui com forte teor sobrenatural.

Todos os acertos de Fúria Sobre Rodas derivam desse espírito B. É a oportunidade de acompanhar em 3-D a arte de Nicolas Cage, é o prazer de ouvir os palavrões de Amber Heard ditos com gosto. E é, principalmente, a sacada de reciclar o misticismo brega do rock dos anos 80, expresso tanto na trilha sonora quanto nos efeitos visuais. Enfim, não tem erro com carros encerados em um cenário que parece capa de disco do Manowar. Há todo um ideal de masculinidade aí.

O caso é que a injeção de testosterona não dura pra sempre. E numa segunda sessão (vi o filme duas vezes, em 2-D e 3-D), fica claro que Fúria Sobre Rodas perde muito com as debilidades de Lussier na hora de dar fluência à ação e manejar o 3-D. A cena do tiroteio do quarto de hotel é um exemplo. As pessoas parecem plantadas em cena. Lussier se dedica aos seus efeitos de estimação, como a machadinha atirada na tela, e a movimentação fica truncada. Em momentos seguintes, parece que capotagens e explosões não têm "peso", é como se o diretor revogasse a lei da inércia (um carro sai acelerando e no plano seguinte passa mansinho) em nome das condições de filmagem que o 3-D exige.

No fim isso sacrifica as virtudes citadas, afinal não dá pra fazer um filme de ação só com pose e pausas dramáticas. Fúria Sobre Rodas referencia os exploitations automobilísticos dos anos 70, mas aquelas produções tinham um dinamismo que hoje está em extinção. Em comparações recentes, com filmes como À Prova de Morte, a diferença fica mais gritante. Quentin Tarantino vira um Jack Kirby perto do estilo Image Comics da ação de Lussier.

Mas a trilha sonora vale baixar.

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Nota do Crítico
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