Regina Duarte não tem mais medo. Seja por coragem, ou a título de desabafo, a atriz encarna uma mistura de Norma Desmond com Jigsaw e entrega tudo o que tem em Gata Velha Ainda Mia, filme de terror que marca a estreia na direção de longas de Rafael Primot, nome saido da televisão e do teatro.
gata velha ainda mia
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Durante os créditos iniciais aprendemos que a reclusa escritora Gloria Polk (Duarte) está voltando a publicar, anos depois de seu último romance. Ela aceita dar uma entrevista em casa para a jornalista Carol (Bárbara Paz), e em um fluxo de consciência em voz alta a escritora prontamente explica seus dramas e motivos: ficou velha, caducou seu feminismo, odeia mulheres jovens, ressente-se da solidão.
Intencionalmente ou não, Gata Velha Ainda Mia pinta com a maior rapidez Gloria Polk como maníaca, e o espectador passa o filme todo esperando ela reconhecer que tem uma tendência a Hannibal Lecter. É uma espera angustiante porque: não é todo dia que a Namoradinha do Brasil se presta ao papel de louca; queremos logo que o terror se consume; e porque Gata Velha Ainda Mia é absolutamente entediante na sua preparação do "banquete".
Primot se limita a pegar a premissa de Sleuth - a peça de Anthony Shaffer duplamente adaptada ao cinema com Michael Caine - e transformá-la num monólogo filmado em close-up, para a protagonista extravasar seus ressentimentos. Encenar filmes num único ambiente não é fácil, e quando o que se tem no seu naipe de recursos são só planos-detalhes em câmera lenta e uma fotografia "quente", o resultado pode mesmo ser bastante insatisfatório.
Restam, então, o consumo irônico de frases feitas para virar meme ("a terra preta do Nordeste de Teerã!"), o passatempo de pescar referências (Crepúsculo dos Deus é citado quase literalmente) e o prazer de ver o filme se entregar aos poucos aos clichês de gênero: trilha sonora emulando Danny Elfman, muitas trovoadas, Bárbara Paz deitada num ninho de papel-alumínio, a obrigatória reviravolta inteligentona no final.
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