De Exu, no sertão de Pernambuco, surge mais uma história sobre conflito de gerações: pai, filho e suas desavenças. No meio da história, baião, xote, xaxado e canções de protesto. Em Gonzaga, de Pai pra Filho, Breno Silveira segue novamente o caminho da fortuna descoberto em 2005 com 2 Filhos e Francisco. Para humanizar ídolos, adiciona drama familiar ao gênero da cinebiografia musical.
gonzaga
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Desta vez são as vidas de Luiz Gonzaga, o rei do Baião, e Gonzaguinha, compositor que desafiou a ditadura na década de 70, o foco do roteiro de Patrícia Andrade (parceira do diretor em 2 Filhos de Francisco, Era Uma Vez... e À Beira do Caminho). Um encontro de gerações no sertão pernambucano forja a estrutura narrativa do filme - o pai conta sua história ao filho em uma tentativa de superar divergências.
"Eu penei, mas aqui cheguei"
Filho de sanfoneiro, Gonzaga fugiu de Exu por conta de um amor proibido (a filha de um coronel) e entrou para o exército. Redescobriu a música apenas uma década depois, no Rio de Janeiro. Passados quatro fracassados anos entre valsas, foxtrotes, tangos e choros executados à boêmia carioca, seu caminho ao trono, com suas 600 músicas gravadas em 266 discos, começou a ser trilhado a partir da aceitação das suas raízes sertanejas, o forró que ensaiava com o pai na adolescência.
Esse movimento de rejeição/ retorno às origens é a base da trama."Asa Branca", a icônica composição de Luiz Gonzaga em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira (foco do documentário o Homem que Engarrafava Nuvens), tem seus primeiros acordes introduzidos depois que o sanfoneiro faz as pazes com o sertão. Gonzaguinha, abandonado depois da morte da mãe, deixa a família adotiva para viver com Gonzaga e "descobrir quem é", retornando logo depois ao samba que aprendeu no morro com Xavier, seu pai de criação.
O conflito de gerações é acentuado pela presença de seis atores nos papéis principais, que definem não apenas a passagem do tempo, mas o ritmo do filme. Intenso e compassado nas conversas entre pai e filho na década de 80 (Adélio Lima e Júlio Andrade), dinâmico e passional na narrativa de Gonzaga, da sua juventude em Exu (Land Vieira) à sua vida adulta (Chambinho do Acordeon) e seus conflitos com o filho (o menino Alison Santos e o jovem Giancarlo Di Tommaso). A música é cuidadosamente trabalhada e incorporada à trama pelas interpretações, principalmente por Andrade e Chambinho do Acordeon.
Apesar da bela fotografia, assinada por Adrian Teijido, capaz de dar textura à aridez do sertão e fluência à umidade carioca, e da cuidadosa direção de arte de Cláudio Amaral Peixoto na caracterização das diferentes épocas retratadas, Gonzaga, de Pai para Filho não consegue fugir da armadilha novelesca do cinema brasileiro comercial. Seu didatismo tira a consistência dos dramas vividos pelos personagens e reduz morte, amor, abandono e humor a caricaturas e receitas da teledramaturgia. As situações não são idealizadas, mas comprimidas em um roteiro didático, que explica os sentimentos dos personagens, mas dificilmente consegue colocá-los em cena.
Luiz Gonzaga e seu filho tem uma bela homenagem no filme de Breno Silveira, nada mais. A essência da sua história ainda precisa encontrar uma representação definitiva no cinema.