Há algum tempo o Brasil vive a moda da “gourmetização”. Comidas simples ganharam um status mais sofisticado e restaurantes perderam espaço para os food trucks. Uma onda de modernização que questiona a forma antiga de prestar serviços. Além disso, os reality shows de culinária também começaram a fazer um grande sucesso, mostrando a pressão nos bastidores e a difícil arte de cozinhar. O tema é interessante para o público, e é exatamente isso o que torna Gosto se Discute, filme protagonizado por Cássio Gabus Mendes e Kéfera Buchmann, um grande desperdício de oportunidades.
A trama começa quando o chef Augusto (Gabus Mendes) recebe a visita de Cristina (Buchmann), uma representante do banco que pretende fazer mudanças em seu restaurante. Com a concorrência de um novo food truck em sua porta, o estabelecimento tem problemas financeiros e o dono se recusa a modernizar as coisas, desde o cardápio até a decoração. A premissa não é tão ruim assim e o filme tinha uma chance interessante de fazer paralelos entre o novo e o antigo, mostrando as vantagens de cada um e revelando como a união do clássico com o moderno pode criar algo mais completo. Porém, o que Gosto se Discute entrega é uma trama rasa, sem muita evolução para seus personagens e com resoluções questionáveis.
Começando pelo protagonista, Augusto é um homem de outra época e o filme faz questão de pontuar isso até demais: em uma cena, a câmera foca em como o chef ouve rock clássico e (ainda) usa CD em seu micro system. Ao colocar essa característica de forma claramente crítica, é esperado que o longa mostre alguma evolução de Augusto ao fim da trama, mas isso não acontece. A solução que ele encontra para o problema de seu restaurante é, no mínimo, questionável, envolvendo uma religião de forma caricata e pouco respeitosa. O ator veterano até entrega boas cenas, mas fica claro que o problema é o roteiro. Já Kéfera Buchmann mostra dificuldades em seu primeiro papel mais sério. Enquanto tem naturalidade nas cenas mais cômicas, a jovem atriz sofre quando é preciso mostrar tons mais dramáticos. Há talento ali, mas que ainda precisa ser lapidado caso ela queira investir em projetos mais ambiciosos.
No site de sua produtora, Gosto se Discute é descrito como uma comédia romântica, mas falha nas duas categorias. Existem uma ou duas piadas divertidas, mérito de Paulo Miklos, que faz um médico “meio doidão”, e Robson Nunes, o garçom que apenas observa toda a bagunça no restaurante e faz comentários espirituosos. O elenco principal, contudo, não encaixa as piadas nos momentos certos e o riso não acontece. Já o romance surge de forma abrupta, sem construção nenhuma ao longo da trama. Augusto e Cristina são pessoas completamente diferentes, que não se gostam, não possuem afinidades e em momento nenhum do filme demonstram alguma admiração mútua. Logo, quando o “romance” entre os dois acontece, o sentimento é de estranhamento, não de felicidade pelo casal finalmente estar junto.
Em alguns momentos, o longa ai para o lado gastronômico e mostra como é o dia a dia corrido de uma cozinha de restaurante. Essas sequências são grandes acertos e sugerem uma trama dinâmica, mas são deixadas de lado rapidamente. Por tudo isso, Gosto se Discute é mais um naquela categoria de filmes que tinham um grande potencial, mas perderam a chance de brilhar com personagens fracos e um roteiro cheio de decisões erradas. Exatamente como um prato sem tempero.