Uma partida de futebol americano pode durar até duas, três horas. Mesmo sem ser dos mais agitados, esse esporte faz horas de tédio valerem a pena com jogada genial. A estratégia para atingir a vitória é onde está o trunfo dos grandes craques da modalidade - aqui, o planejamento é tão importante quanto as atribuições físicas. A Grande Escolha, de Ivan Reitman, foca nessa preparação e a torna tão espetacular quanto um decisivo touchdown no Super Bowl.
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São duas horas sobre negociações acerca do "Draft Day", ocasião anual em que os times dos Estados Unidos podem recrutar novos jogadores. O primeiro contato deixa a impressão de mais um longa com a superação do protagonista, um coadjuvante cômico e um vilão redentor. Após os minutos iniciais, porém, o filme mostra uma história que vai além disso.
Em certo momento, fica clara a opção de Reitman: ao invés do sentimentalismo inerente a esse tipo de história, o cerne aqui é o trabalho, a lábia do personagem de Kevin Costner. "Me deixe trabalhar", diz Sonny Weaver Jr em diversas ocasiões, do estagiário ao presidente. Mesmo o papel de Jennifer Garner, feito para dar o toque feminino ao longa, foge do estereótipo emocional e dá força ao aspecto corporativo sugerido desde o início.
A Grande Escolha consegue lidar com as minúcias do futebol americano sem parecer técnico ou didático. Assim, fãs de longa data e leigos conseguem acompanhar as regras do jogo sem problemas. Ao lado dessas explicações sempre aparecem fatos históricos para contextualizar a importância de uma decisão iminente - algo que não só contribui para o roteiro em si como atende aos desejos dos veteranos aficcionados pelo esporte.
Reitman surpreende ao se distanciar de suas tradicionais comédias e faz um filme pautado pela tensão nos diálogos, semelhante a trabalhos que produziu como Amor Sem Escalas. Focado nos trâmites do esporte mas sempre relembrando a grandeza do negócio abordado, A Grande Escolha é a representação de como os bastidores podem ser mais interessantes que uma partida real.