|
||||
Aguardado pelos apreciadores de terror e ficção, o fenômeno russo Guardiões da noite (Nochnoi Dozor, 2003), realizado com apenas 4 milhões de dólares, tornou-se o maior filme de todos os tempos na Rússia, superando qualquer produção estrangeira por lá, incluindo pesos pesados como O Senhor dos Anéis e Homem-Aranha.
Trata-se, porém, de um passo atrás para o cinema russo. O filme fez dinheiro? Sim. O que não significa que seja bom, muito pelo contrário. Já ouviu falar de salada russa? Aquela que leva batata, vagem, cenoura, ervilha, ovo... verdadeira mistureba, ligada por uma base de maionese? O filme é o equivalente cinematográfico do prato. Joga fora uma das tradições mais poderosas da história do cinema mundial para abraçar o cinemão "globalizado" juntando e ruminando idéias de bons longas como Matrix, O Senhor dos Anéis, Homens de Preto e X-Men, com pitadas de comédia, suspense e muito merchandising.
Apesar de visualmente interessante e de ter sido realizado com competência técnica pelo diretor de comerciais Timur Bekmambetov, Guardiões da noite cai no maior dos problemas da Hollywood que copia. Faltou a maionese. Ele esquece o roteiro em função das firulas visuais e diálogos vazios. Algo curioso, já que o próprio autor do livro no qual o filme se baseia, Sergei Lukyanenko, o co-roteirizou ao lado do diretor. E tome mulher-tigre, vampiros, furgões a jato, câmera lenta, guerreiros medievais, feiticeiros, videogames, óculos escuros, sobretudos, espadas de luz e tantos outros elementos que, sem o apoio de uma história bem contada - salvo a boa reviravolta final -, tornam-se apenas coisas bacanas jogadas aleatoriamente, que deveriam irritar qualquer espectador com um mínimo de senso crítico.
A história abre com um prólogo em 1342 d.C., quando os Guerreiros da Luz liderados por Gesser (Vladimir Menshov), e os Guerreiros das Trevas, capitaneados por Zavulon (Viktor Verzhbitsky), estabelecem uma trégua. Nela, os "Outros" - humanos com poderes sobrenaturais de cada um dos lados - patrulharão seus oponentes para garantir que o equilíbrio do poder seja mantido. Porém, uma profecia diz que um poderoso "Outro" um dia virá para acabar com esse acerto, colocando os séculos de trégua em perigo ao aliar-se a um dos dois extremos.
A trama acompanha Anton Gorodensky (o astro russo Konstantin Khabensky), sujeito que descobre ser um "Outro" e é recrutado pelo lado da Luz para trabalhar nos Guardiões da Noite, equipe de controle da trégua. Mas ao salvar o jovem Egor (Dima Martinov) das garras de vampiros do mal, Anton esbarra numa mulher amaldiçoada, que pode ser o epicentro de dramáticas catástrofes vindouras.
Sergei Eisenstein, este sim responsável por bons filmes russos, deve estar se revirando no caixão. Leve seu Engov porque a digestão é difícil. E guarde um comprimido na cartela, porque Guardiões do dia, a continuação, já está quase pronta...