Quando Happy Feet - O Pinguim (2006) surgiu todos ficaram maravilhados com aquelas criaturas fofas, as sequências musicais, o sapateado de Mano (voz de Elijah Wood) e a história, que falava sobre aceitar e ser aceito por quem você é, além de ter uma mensagem ecológica. A animação dirigida por George Miller arrecadou quase 400 milhões de dólares nas bilheterias ao redor do mundo e ainda abocanhou o Oscar de melhor longa-metragem animado daquele ano, batendo Carros e A Casa Monstro. A consequência natural disso tudo seria uma continuação. E cá estamos, cinco anos depois, vendo Happy Feet 2 (2011).
Happy Feet 2
Happy Feet 2
Happy Feet 2
O segundo filme mostra o casal Mano e Glória (dublado pela cantora Pink, após a morte de Britanny Murphy) já com um pequeno rebento, Erik (Ava Acres), tão inseguro quanto foi seu pai. O alto nível de fofura do novo personagem, presente em toda a divulgação do filme, mais uma vez pode enganar os pais desavisados, que levarão seus filhos imaginando um desenho inocente e engraçadinho. Happy Feet 2 possui cenas de ação bastante realistas, personagens que esbravejam em alto tom e outros barulhos de avalanches e terremotos que podem dar medo nas crianças menores. E o problema maior é que essas sequências não servem para fazer a trama andar para frente.
Em 100 minutos, vemos a história de um filho que não consegue se equiparar ao pai e foge com os amigos. Um pai que fica com a consciência pesada e vai tentar a reconciliação. A substituição da figura paterna por um outro herói. As lições de humildade e perdão, e todos os desfechos para os problemas apresentados anteriormente, mas sem uma unidade. Parece até que o roteiro foi feito a partir de um brainstorm em que as ideias apareceram e dali foram direto para o papel, sem a preocupação com o todo, formando uma trama que é inicialmente mais indecisa do que a trajetória de um floco de neve e, no final, se mostra mais fina e esburacada do que a atual camada de ozônio - o alerta ecológico da vez.
Paralelo a tudo isso acompanhamos a jornada de dois krill, espécies minúsculas de camarões, dublados por Matt Damon e Brad Pitt na versão original. A dupla, em busca de evolução e um sentido para a vida, deveria servir como alívio cômico, mas fica muito aquém de sua não declarada (mas óbvia) inspiração, o esquilinho pré-histórico Scratch, de A Era do Gelo. Porém, do ponto de vista estético, os dois personagens são importantíssimos. Quando acompanhamos na tela do cinema suas elucubrações, eles enchem a tela com seus detalhes minimamente reproduzidos digitalmente pelos pixels. Ao tentar colocar suas ideias em prática, o plano abre em alta velocidade, mostrando a insignificância daqueles seres perto dos outros animais em um interessante movimento de câmera.
Mas com a constante presença dos dois em cena, sobra menos espaço para o galanteador pinguim latino Ramon (Robin Williams), que agora se joga no chão para conquistar o coração de Carmem (a mal utilizada Sofia Vergara). Já o outro papel de Williams, o pinguim-guru Amoroso, fica ainda mais desinteressante do que na animação de 2006. Se lá atrás era ele ajudava a mostrar a "moral da história", aqui só aparece para colocar o pinguim-voador Sven (Hank Azaria) como o novo salvador. Assim, ele acaba sendo a síntese da franquia, que um dia foi visionária e liderava, e agora segue as outras. Está lá a pinguinzinha fazendo parkour para provar tudo isso.