Resultado de um sonho de anos do astro do filme, Dwayne Johnson, Hércules enfim chega às telas. Mas a expectativa do ator, que considera este o papel de sua vida, parece ter pesado demais no filme.
Por mais que seja um ator decente e definitivamente tenha o corpo perfeito para viver o personagem, Johnson não desaparece em seu Hércules. Mesmo escondido sob uma barba e cabelos desgrenhados, sente-se o tempo todo na face do ator o peso da responsabilidade que ele depositou em seus próprios ombros.
Há algo meio fora do lugar no filme também em termos de produção. Apesar do vasto orçamento, que permitiu ao diretor Brett Ratner a construção de um megalomaníaco set em Budapeste e o emprego de centenas de figurantes para as cenas de batalha - na melhor tradição do passado -, a computação gráfica que deveria ampliar tudo isso não ficou à altura do desafio. As multidões de soldados a meia distância parecem falsas e os cenários reais são subutilizados e perdem sua escala.
Bem mais interessante é a criação do universo fantástico de Hércules, baseado na HQ The Thracian Wars, de Steve Moore. No roteiro, o herói Hércules é um mercenário que vaga pela Grécia ao lado de seu bando de companheiros habilidosos, vendendo seus serviços a quem precisa livrar-se de piratas, encrenqueiros... Parte da estratégia do grupo, porém, é a guerrilha psicológica. Hércules é anunciado como o semideus da lenda, o poderoso filho de Zeus que conquistou seus 12 trabalhos e é invencível. Alguns desses desafios do passado são mostrados com competência no filme, em ótimos flashbacks, que compensam o CGI mediano das batalhas.
Igualmente positivo é o elenco secundário, que encontra seu espaço com tranquilidade e foi muito bem escolhido, dando a Johnson bons profissionais para contracenar. As interações são boas especialmente no humor, algo que é o forte do diretor (A Hora do Rush é ainda seu melhor trabalho), e os grandes Ian McShane e John Hurt encontram o que fazer, dividindo a responsabilidade do protagonista e aliviando seu fardo auto-imposto.
Hércules é instável, mas suficientemente interessante. Faz uma boa releitura de um tema já amplamente explorado no cinema, o questionamento da fé - acreditar em uma força intangível ou em si mesmo - mas não empolga no nivel que os produtores imaginavam. O trabalho mais difícil de Hércules não será um leão, um javali ou a limpeza de um estábulo, mas definitivamente ser lembrado como Dwayne Johnson esperava.
Hercules | Segredos da produção
Hércules chega aos cinemas brasileiros em 4 de setembro.