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Crítica

High School Musical 3: Ano da Formatura

Continuação dos telefilmes da Disney celebra o mundo das aparências - mas dá pra ver as fraturas

23.10.2008, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H41

Quando o Disney Channel exibiu em 2006 o primeiro telefilme da série High School Musical, não se sabia que aquela revisão de Romeu e Julieta faria tanto sucesso. Pois fez, e a televisão ficou pequena. Eis então, nos cinemas, High School Musical 3: Ano da Formatura (2008), do diretor e coreógrafo Kenny Ortega.

hsm 3

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Troy (Zac Efron) e Gabrielle (Vanessa Hudgens) continuam tendo que provar seu amor. Desta vez, o perigo não é a inveja de Sharpay (Ashley Tisdale), mas a vida adulta. A faculdade está aí e namoro de colegial não dura para sempre. Quer dizer, estamos nos domínios da Disney, então tende a durar, se for belo e puro. Belos e puros são Troy e Gabrielle.

Como na maioria dos produtos Disney, High School Musical 3 é uma versão romanceada da realidade, quase um conto-de-fadas. Se a vida dos adolescentes no colegial já é, em si, uma disputa de aparências, o filme leva esse mundo de aparências ao extremo da caricatura. A casa-da-árvore parece saída de um parque temático. No ferro-velho todos usam bandana. A nerd tem que usar boina. O gay enrustido tem que ser o mais bem vestido.

Claro que, como toda construção de ficção, HSM 3 depende da crença do espectador nessa construção. E, se você não compra a caricatura, então fica divertido reparar nos cacos de realidade que se esgueiram pelas fraturas desse mundo aparentemente perfeito do filme.

A começar pelos próprios Zac Efron e Vanessa Hudgens - ele, uma jogada de estúdio frankensteineana para construir um galã ao mesmo tempo de rosto virgem e músculos definidos, com os braços venosos que denunciam o abuso da malhação; ela, um corpo formado, ciente de seus dotes (alô, Internet?), que a Disney tenta cobrir de castidade, mas que transparece numa dança na chuva ou numa mordida lasciva de morango coberto de chocolate.

São contradições como essas - o menino frágil mas adulto, a menina casta mas safada - que fazem de HSM 3 um fascinante teatro de hipocrisia. O nerd tem 15 segundos de fama, mas primeiro precisa passar vergonha pelado na frente de todos. A negra pode até sonhar em virar presidente dos Estados Unidos, mas primeiro ela precisa segurar o guarda-chuva da princesa.

Quem esse falso discurso politicamente correto quer enganar? Contos-de-fada são festivos e coloridos, enfim, mas são também o palácio dos reacionários.

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Nota do Crítico
Ruim