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Crítica

Horas Decisivas | Crítica

Homens ao mar

18.02.2016, às 16H51.

Expressar seus sentimentos nunca foi o forte dos homens da chamada Melhor Geração, que cresceu nos EUA com a dureza da Recessão dos anos 1930 e depois se viu defendendo os ideais do país na Segunda Guerra. Ainda assim os protagonistas de Horas Decisivas (The Finest Hours, 2016), que surgem em cena como caricaturas desse tipo duro de poucas palavras, parecem assombrados pela responsabilidade da hombridade - e mesmo entre si são incapazes de conversar olhando-se nos olhos.

Chris PineCasey Affleck e Ben Foster são alguns desses homens, na trama baseada em fatos ocorridos em 1952, quando uma tempestade deixou à deriva dois petroleiros no mar de Massachusetts, nos EUA, e a Guarda Costeira se viu diante de um resgate dramático no meio da noite. Craig Gillespie (A Hora do EspantoA Garota Ideal) dirige o filme, que se filia a um subgênero bem específico dos suspenses de naufrágios, apoiados em efeitos visuais, como Mar em Fúria.

O que Horas Decisivas tem de específico, ecoando a crise de identidade que assola os homens no novo século, é esse tratamento dado à hipersensibilidade masculina, como se a introspecção não fosse somente uma característica dessa geração, mas seu traço definidor. Tanto Pine quanto Affleck agem no filme com um comportamento à beira do autismo, incapazes de manter relações ou mesmo diálogos naturalmente que não sejam com as máquinas, sua vocação inata. Não por acaso, Horas Decisivas se encaminha no seu clímax não para o salvamento mas para o encontro dos dois - quando os heróis identificam um no outro um semelhante, num simples toque de olhar.

Gillespie filma esse comportamento de forma atraente, obcecado com planos-detalhes e close-ups fetichistas que reforçam a química do homem com o maquinário, em cenas de pulsão e ímpeto sexual como o controle de Pine na lancha, jogando o manche à frente, e de Affleck na casa de máquinas, penetrando com sua viga as entranhas do petroleiro. Às mulheres em Horas Decisivas - especificamente à noiva da personagem de Pine - resta procurar e reivindicar um lugar, sob o olhar assustado e inquisidor de todos, como aqueles alienígenas recém-chegados aos anos 50 dos filmes B de perigo comunista.

Pobre da noiva, mais à deriva que os próprios petroleiros, neste filme que já nasce velho, em que as memórias de uma geração mais parecem um pesadelo de psicanálise.

Nota do Crítico
Regular