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Crítica

Crítica: Horror em Amityville

Horror em Amityville

18.08.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H18

Em 1979, o filme A Cidade do Horror fez um tremendo sucesso para os padrões da época, tornando-se um cult. Com James Brolin e Margot Kidder nos papéis principais, e faturamento de quase 90 milhões de dólares somente nas bilheterias estadunidenses, o filme de antanho causou impacto por tocar em questões até certo ponto consideradas tabus. Em primeiro lugar, por estabelecer um elo forte entre o campo ficcional e arquitetado do cinema e a vida como ela é, o famoso bordão "baseado em fatos reais". Uma tentativa oportunista de saciar o prazer mórbido de seu público colocando um pouco de sanguinolência nas lentes e dando a ele a chance voyeurística de estar perto dos acontecimentos. Em segundo lugar, por trazer incógnitas que nem Ciência nem Religião explicam, acabando por desmistificar um pouco a onipotência da Igreja e dar vazão aos segredos do ocultismo. Não deixa de ser um tema que se aproveita dos mistérios entre o Céu e a Terra pra fazer seu pé-de-meia, indo na rabeira do Exorcista, primo seis anos mais novo. E por último, mas não menos importante, por gerar um vínculo identificatório ao implantar o terror não na grandiloqüência dos fatos mirabolantes, mas no universo comum, pequeno e fechado do cotidiano insípido: uma família feliz e bem-estruturada, um emprego, uma casa. Ou seja, o massacre em série poderia acontecer com qualquer um de nós.

Horror em Amityville

Horror em Amityville

Horror em Amityville

Passadas quase três décadas, a refilmagem Horror em Amityville, dirigida pelo novato Andrew Douglas, protagonizada por Ryan Reynolds (Blade: Trinity), Melissa George (Cidade dos Sonhos) e Philip Baker Hall (Boogie Nights, Magnólia) e produzida pela turma de Michael Bay (O Massacre da Serra Elétrica), perdeu um pouco desse sabor de novidade. Muito embora tenha se baseado no livro de Jay Anson e nos próprios depoimentos fornecidos pelo casal George e Kathleen Lutz, há muito pouca verdade no filme. Cenas impressionistas de sangue escorrendo comprovam essa teoria.

Tudo começa em 13 de novembro de 1974, quando a polícia do condado de Suffolk recebe uma chamada telefônica do número 112 da Ocean Avenue, Amityville, em Long Island. Dentro da ampla casa de estilo colonial holandês, encontraram a cena de um crime brutal que abalou a comunidade: uma família inteira fora assassinada enquanto dormia. Dias depois, Ronald Defeo Jr. confessou ter usado um rifle metodicamente para matar os pais e seus quatro irmãos. Ele alegou ter ouvido vozes que vinham de dentro da casa que o levaram a cometer os crimes. No ano seguinte, George e Kathy Lutz mudam-se com os filhos para o mesmo endereço, acreditando terem encontrado a casa de seus sonhos. Não demora muito para que eventos bizarros voltem a acontecer - visões e vozes do além que provam que uma presença maligna continua oculta na casa. Assustada com o relacionamento tétrico que sua filha Chelsea inicia com uma amiga imaginária, Jodie (no livro, um porco-fantasma), Kathy luta para manter sua família unida, enquanto George passa a ter um comportamento cada vez mais estranho, ficando muito tempo no porão da casa onde encontra uma passagem que leva a um "quarto vermelho".

Como se não bastasse a exaustiva recorrência a ícones do terror tão em voga ultimamente, como casas velhas e mal-assombradas com vida própria, olhos vermelhos indicando paranóico em transe e crianças que conversam com seres imaginários, Douglas abusa dos clichês do gênero. Movimentos rápidos de câmera, cortes bruscos, sons repentinos pra pregar sustos e por aí vai. Todo o clima de tensão vai por água abaixo na fraca construção dos diálogos e no sangue explícito. No meio de tantas referências, o diretor perde-se um pouco ao misturar a objetividade policial de constatação dos fatos e querer imprimir um tom subjetivo demais ao seu trabalho. Fica parecendo fotojornalismo com assinatura de pintor famoso. Faltou perceber que contundência e calafrios não estão necessariamente vinculados à veracidade. Se fosse intitulado "baseado nas alucinações repentinas do diretor" seria mais honesto. Não que o estilo peça uma reinvenção, pois há muitos mestres e quiçá iniciantes que repetem a velha fórmula. Mas esse horrorzinho em Amityville não disse exatamente a que veio. Talvez seja um filme-fantasma, uma produção que nunca existiu, protagonizada por atores imaginários e conduzida por um calouro esquizofrênico.

Érico Fuks é editor do site cinequanon.art.br

Nota do Crítico
Ruim