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Dizem por aí, que A queda! As últimas horas de Hitler (Der Untergang, 2004) é um filme que humaniza o ditador alemão. Logo na primeira cena, uma fila de jovens chega ao Quartel General de Hitler, conhecido como Toca do Lobo, em Rastenburg, na Prússia Oriental. Na narração em off, tirada do documentário Eu fui a secretária de Hitler (2002), Traudl Junge conta que estava ali para uma entrevista de emprego para secretária pessoal do Führer e que se motivava mais pela curiosidade de conhecê-lo do que por qualquer razão política. A jovem de Munique, que à época tinha seus 22 anos, é escolhida e vai para a sala fazer um teste. Nervosa, não consegue datilografar uma só palavra corretamente. Ao perceber que algo estava errado, Adolf sugere vamos tentar mais uma vez.
Este é um dos famigerados lados humanos do ditador alemão mostrados no longa-metragem de Oliver Hirschbiegel (A experiência). Mas os bons tratos com as figuras mais próximas, inclua na lista Eva Braun, os Goebbels e a cadela pastor-alemão Blondie, se alternam com ataques furiosos contra seus generais, que o estão fazendo perder a guerra. A cegueira de quem não consegue, ou não quer, ver a iminente derrota também não deixa de ser outra característica bem humana, a vaidade. Assim, fica difícil criticar o filme por humanizar Hitler, afinal, apesar de todas as atrocidades cometidas pelo regime nazista, seu líder era um ser humano, que como qualquer pessoa se alimentava, se emocionava, e, como sabemos, errava.
Os últimos dias
O foco principal do filme são os últimos dias antes da queda de Berlim para os russos. Mais especificamente entre o 56º aniversário de Hitler, em 20 de abril de 1945, até seu suicídio, no dia 30 do mesmo mês. Já confinado em um bunker, o líder nazista demonstra sinais de fadiga e nervosismo pela iminente derrota. E aqui o trabalho de Bruno Ganz se destaca. O ótima interpretação do ator suíço ajuda a nos fazer esquecer que embora o filme seja baseado em fatos e depoimentos reais, é uma obra ficcional.
Assim, o longa adquire ares de documentário. A diferença é que em vez de ter na tela um entrevistado falando para a câmera, temos personagens que foram reais fazendo pequenas confissões, como Eva Braun (Juliane Köhler) dizendo que costuma chutar a cadela do Führer quando ele não está por perto. Há também um distanciamento da ficção pela quase inexistência de trilha sonora. Em uma das cenas mais dramáticas, Magda Goebbels (Corinna Harfouch) dá adeus a seus filhos ao som do estourar das cápsulas de cianureto.
Em paralelo ao que acontecia neste mundo subterrâneo que era o refúgio de Hitler, o longa também mostra o que acontecia na superfície. Crianças defendiam um líder que não queria ver ninguém vivo ao final da guerra, grupos de militares matavam civis que se recusavam a pegar as armas e enfrentar o exército vermelho, e orgias com os já haviam jogado a toalha aconteciam em casarões berlinenses. Tais fatos não estão na tela para acrescentar algo à história pessoal de Hitler. Eles são parte de algo maior, a História.
Respondendo aos que simplificam A Queda! As últimas horas de Hitler dizendo que é um filme que humaniza um dos maiores assassinos que já pisou na Terra, vale dizer que o longa é muito mais um retrato de Berlim naqueles últimos dias de domínio nazista. Algo feito para quem gosta mais dos meios do que dos fins. E neste caso, sabemos desde o começo que, mesmo com a queda do nazismo, não é o que pode ser chamado de final feliz.