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Peço perdão a você, leitor, mas vou começar este texto de uma forma um pouco diferente. Vou contar um pouco dos bastidores do Omelete, o que acontece aqui na Cozinha e que pouca gente fica sabendo. Semanalmente, nós nos reunimos para decidir quem vai assistir a qual filme e escrever as respectivas críticas. Geralmente, escolhemos as pessoas que gostam mais de determinado assunto. Por exemplo, o Érico Borgo falou que comeria o cérebro de quem ousasse pegar o novo filme de Romero, Terra dos mortos. Usando este método, ficou decidido que o nosso ilustre colaborador Fábio Yabu seria o responsável pela crítica de As aventuras de SharkBoy e LavaGirl em 3D (The adventures of Shark Boy & Lava Girl in 3D, 2005), novo projeto de filme-família do diretor Robert Rodriguez, da trilogia Pequenos espiões.
Por que estou contando isso? Apenas porque infelizmente o Yabu não pôde ir à exibição do filme para a imprensa e a bomba estourou na minha mão. Por ter criado a série de histórias em quadrinhos Combo Rangers, o tema central de SharkBoy e LavaGirl estaria muito melhor nas mãos dele, pois as duas histórias têm muito em comum. Ambas tratam de mostrar para as crianças a importância da amizade e do amor. Há também uma importante mensagem sobre os sonhos que todos temos e dos quais não devemos desistir.
O tema pode parecer bobo, mas faltam hoje em dia produções (em qualquer mídia) que passem bons ensinamentos às crianças. Se você der uma vasculhada no que é lançado, verá que há uma exploração muito maior de produtos cujo único intuito é o sucesso comercial, seja em bilheterias, vendas ou produtos relacionados. E é neste ponto que Rodriguez se diferencia da concorrência. As aventuras de Sharkboy e LavaGirl começou como uma brincadeira dele com seu filho Racer Max, que na época tinha apenas 7 anos. Robert, sua esposa e produtora Elizabeth Avellán e os quatro filhos do casal participaram ativamente do projeto, dando idéias e testando as piadas que acabaram no roteiro final. Aliás, Racer é oficialmente creditado como criador da história e, o que ele deve ter achado ainda mais legal, virou o personagem principal: Max, o menino que tem como amigos imaginários os tais Garoto-tubarão e Menina-lava do título.
Bastante solitário, o pequeno Max (Cayden Boyd), de 10 anos, não consegue se enturmar. Quando tem de ir à frente da classe e ler em voz alta a famosa redação "Minhas férias", conta a história de como conheceu SharkBoy e LavaGirl. O primeiro é um menino que foi criado por tubarões e chegou até a desenvolver barbatanas e guelras. Já a menina que vem do planeta Baba consegue soltar magma de sua mão. Os colegas de Max dão risadas de tamanha infantilidade e ele é repreendido até pelo professor, que o instrui a parar de sonhar. Mas quando os dois heróis mirins invadem a classe, todos ficam mudos. A dupla está atrás de Max, que é o único que pode ajudá-los a salvar o planeta Baba.
Alguns adultos podem achar o resultado final sem graça, a atuação forçada e infantilóide, o roteiro fraco e sem imaginação. Os fãs de Rodriguez (incluindo aí os pequenos que gostaram de Pequenos espiões) podem reclamar que os óculos 3D "apagam" as cores fortes tão características de seus filmes, principalmente os mais recentes. Mas a verdade é que o público-alvo aqui são os que têm menos de dez anos e que ainda não ligam para este tipo de detalhe. Para eles, o importante é sentar no cinema e se divertir e isso o Tio Rodriguez garante. O importante é que daqui a alguns anos, estas mesmas crianças vão estar se divertindo vendo filmes como Sin City, El Mariachi e Um drinque no inferno. Encaremos SharkBoy e LavaGirl apenas como uma semente que será colhida daqui a alguns anos.