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Bob Esponja, o Filme | Crítica

<i>Bob Esponja, o filme</i>

23.12.2004, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 09H02

Bob Esponja, o filme
The SpongeBob
SquarePants Movie

EUA, 2004
Animação - 90 min

Direção: Stephen Hillenburg
Roteiro: Derek Drymon, Tim Hill, Stephen Hillenburg, Kent Osborne, Aaron Springer, Paul Tibbett

Vozes no original:
Tom Kenny, Clancy Brown, Rodger Bumpass, Bill Fagerbakke, Carolyn Lawrence, Mr. Lawrence, Mary Jo Catlett, David Hasselhoff, Alec Baldwin, Scarlett Johansson, Jeffrey Tambor

Estava tudo errado para a sessão de imprensa de Bob Esponja - o filme. Ela aconteceu num sábado de manhã, depois de uma festa da qual saí às 5h da madrugada. Ou seja, fui assistir ao filme tendo dormido apenas 3 horas. Sono e ressaca decididamente acabam com o bom humor de qualquer um. Mas Bob Esponja está acima de qualquer mal-estar.

Fanático pelo personagem, arrastei-me ao cinema quase sem saber como cheguei lá. E a cria de Stephen Hillenburg - um biólogo marinho que virou animador - operou um verdadeiro milagre. Ao som da canção Sou um amendobobo despertei revigorado com as gargalhadas garantidas pela aventura animada.

A história acima serve apenas para ilustrar o poder de entretenimento quase alucinógeno do longa-metragem, que adapta para as telonas o extremamente bem-sucedido desenho do Nickelodeon. São 90 minutos de histeria submarina ininterrupta!

Tudo começa com um complexo plano bolado pelo megalomaníaco - e diminuto - malfeitor Plancton. Para conseguir a lendária fórmula do hambúrguer de siri da lanchonete Siri Cascudo, ele consegue roubar a coroa do Rei Netuno e coloca a culpa no Sr. Siriguejo. Para salvar seu empregador, o fiel Bob Esponja e seu amigo Patrick Estrela partem numa aventura para recuperar o artefato. Enquanto isso, Plancton contrata um assassino para impedir a dupla de atingir seu objetivo e começa a produzir seus próprios hambúrgueres de siri. Agora, a única chance de fazer com que a Fenda do Biquini volte ao normal está nas mãos dos dois personagens, que precisam superar suas próprias limitações para se tornarem os heróis que a cidade desesperadamente necessita.

Apesar da premissa um tanto grandiosa, o maior trunfo de Bob Esponja - o filme é justamente não mexer na fórmula que funciona tão bem na televisão. Nesta versão para o cinema, foram usados todos os elementos que tornaram o programa tão famoso entre crianças e adultos (segundo informações da Nickelodeon, 1/3 do público do desenho é adulto!). Os divertidos painéis ilustrados em técnicas detalhistas, utilizados para criar cenas de impacto, aparecem com freqüência, bem como as engraçadíssimas cenas com atores e cenários reais. Aliás, toda a cena de abertura, com o tema musical do personagem, ganha ares de superprodução com um coral de piratas a bordo de um navio de verdade.

A opção pela trama incontrolavelmente frenética, com uma sucessão ininterrupta de piadas e situações absolutamente surrealistas, também é extremamente bem-vinda. Se na TV o programa alterna episódios normais, infantis até, com geniais quadros inspirados na ficção científica trash da década de 70, no expressionismo alemão ou no cinema noir, o filme não tem momentos de sossego ou infantilizados. O longa traz apenas o melhor que o desenho tem a oferecer, cortesia de uma equipe formada por todos os principais - e mais talentosos - roteiristas do programa.

Se há alguma diferença são algumas seqüências musicais, raras no desenho. Mas não pense que se trata de bichinhos cantores da Disney. Longe disso. O número final parece uma mistura das animações de Terry Gilliam (Monty Python, 12 Macacos) com videoclipes dos anos 1970. Além disso, a trilha sonora também é turbinadíssima. Há ótimas músicas das bandas Wilco e Flaming Lips, bem como a faixa The Best Day Ever, que parece ter saído diretamente de um álbum dos Beach Boys, não fosse a voz estridente de Tom Kenny, o dublador do Calça Quadrada.

Como únicos pontos negativos vale citar apenas o cenário, que poderia ter sido um pouco melhor trabalhado para a produção, e uma maior utilização de coadjuvantes importantes, como a Sandy Bochechas ou o Lula Molusco. A esquilo fêmea que veste roupa de astronauta e o vizinho chato, coadjuvantes recorrentes na TV, ficam em último plano no filme e dão espaço para personagens desconhecidos, criados apenas para que alguns famosos pudessem ter o que fazer no filme. Mindy, a filha do Rei Netuno, por exemplo, foi dublada por Scarlett Johansson (Encontros e desencontros) e sua importância na história é quase nula.

Porém, nada disso prejudica o desenhão do Bob Esponja. Hillenburg foi inteligente o bastante para não se deixar iludir pela tela prateada e manteve o Calça Quadrada dentro de seu ambiente... e não estou falando aqui da água, já que os heróis enfrentam um terrível desafio na superfície, do qual não sairiam vivos não fosse... bom... essa é a maior surpresa do filme e não pretendo estragá-la aqui. Basta que você saiba que a idéia é tão ridiculamente boa que nada do tipo aparecia no cinema desde o coelhinho assassino de Monty Python em busca do cálice sagrado.

Mas, pensando bem, o que é mais deliciosamente estranho que uma esponja engravatada e uma estrela do mar de bermudas? ;-)

Nota do Crítico
Ótimo