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Colateral | Crítica

<i>Colateral</i>

26.08.2004, às 00H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 22H03

Colateral
Collateral

EUA/Espanha, 2004
Drama/Policial - 120 min.

Direção:Michael Mann
Roteiro: Stuart Beattie

Elenco: Tom Cruise, Jamie Foxx, Jada Pinkett Smith, Mark Ruffalo, Peter Berg, Bruce McGill, Irma P. Hall, Barry Shabaka Henley, Richard T. Jones, Klea Scott, Bodhi Elfman, Debi Mazar, Javier Bardem, Emilio Rivera, Jamie McBride

O site do Homem Chavão, super-herói defensor dos chavões e amigo dos lugares comuns e das frases feitas, certa vez publicou uma lista sobre filmes do astro Tom Cruise:

  • Top Gun: Tom Cruise é um piloto de avião. Ele é muito bom, mas um trauma o impede de ser o melhor. Ele se apaixona por uma mulher que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
  • Coquetel: Tom Cruise é um barman. Ele é muito bom, mas um trauma o impede de ser o melhor. Ele se apaixona por uma mulher que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
  • Jerry Maguire: Tom cruise é um agente de atletas. Ele é muito bom, mas depois de ser demitido, fica traumatizado, e este trauma o impede de ser o melhor. Ele se apaixona por uma mulher que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
  • A cor do dinheiro: Tom Cruise é jogador de sinuca. Ele é muito bom, mas sua arrogância o impede de ser o melhor. Até que Paul Newman aparece e o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
  • Minority report: Tom Cruise é um policial do futuro. Ele é o melhor, mas uma conspiração o coloca sob suspeita. Ele sequestra uma paranormal que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.

O texto acima (para ler mais, clique aqui) é uma simplificação de alguns sucessos estrelados por Cruise. Uma brincadeira. Mas, como dizem por aí, por trás de toda brincadeira sempre há um pingo de verdade. Afinal, é fato que pela sua beleza e charme, o ex-marido de Nicole Kidman é quase sempre chamado para o papel do galã, aquele que no fim do filme pega a mocinha nos braços e juntos vão viver felizes para sempre. Se é deste Tom Cruise que você gosta, Colateral (Collateral, 2004) não é para você.

Neste longa dirigido por Michael Mann (Ali), o ex-Ás Indomável encarna pela primeira vez um vilão no sentido literal da palavra. Ele é Vincent, um assassino profissional, cínico e frio, que está em Los Angeles para um trabalho rápido, de apenas uma noite. Ele odeia a cidade e contrata Max (Jamie Foxx, de Ali), um inocente e sonhador taxista, para levá-lo de um lado para o outro. Logo na primeira parada, um imprevisto faz com que Max descubra a verdade sobre seu passageiro, mas quando isso acontece, já é tarde demais e Vincent, um amante do jazz e da improvisação, faz dele um refém.

Pequenos detalhes, grandes diferenças

O roteiro, escrito por Stuart Beattie (Piratas do Caribe), tem diálogos bastante reais, do tipo que você poderia ter com um taxista... ou com um assassino de aluguel. Já a trama não tem nada de inovadora. Suas situações, explicações e desfechos são bastante previsíveis. Mas tudo é muito bem amarrado e consegue facilmente prender a atenção do espectador até o fim. A trilha sonora ajuda, tornando o clima calmo ou tenso, de acordo com o momento da história. E é esta alternância de humores do filme que faz as mais de duas horas de duração passarem sem maiores traumas.

Como as filmagens deveriam mostrar a noite de Los Angeles, Mann resolveu utilizar uma câmera digital de alta resolução, mais sensível à luz. Desta forma, pôde manter a iluminação o mais natural possível. Quem está bem diferente de seu natural é Tom Cruise, que porta barba e cabelos grisalhos. E diferente daquela clássica propaganda da TV, não são só os cabelos que mudaram, a voz também está alterada. Cruise consegue encaixar uma entonação diferente da normal em sua voz, o que enfatiza o lado obscuro do personagem. Outro bastante transformado é Mark Ruffalo, que nem parece ser o mesmo cara que está em cartaz por De repente 30 e Brilho eterno de uma mente sem lembranças. No elenco, temos ainda Foxx, que dá ao personagem todas as inseguranças e esperanças que ele precisa para existir, e Jada Pinkett Smith (Matrix Reloaded e Matrix Revolutions), que tem pouco espaço para mostrar o que sabe, mas preenche bem a tela quando aparece.

Tomando cuidado com os pequenos detalhes, como os descritos acima, ou com os posicionamentos de câmeras e iluminação, Mann faz de Colateral algo mais do que um simples filme de verão, deixando-o acima da média e ainda com um pequeno toque de arte. O maior exemplo é a tomada em que Max e Vincent vêem coiotes andando pelas ruas de Los Angeles, contrapondo o lado calmo do animal e a selvageria do homem.

Fora do tom

Com orçamento estimado em 65 milhões de dólares, Colateral está vagarosamente conseguindo de volta o dinheiro investido. A falta de interesse com certeza não é culpa da imprensa, que vem se desmanchando em elogios ao diretor e à mudança de estilo de Cruise. Aliás, talvez o problema seja justamente o "bom-mocismo" que caracteriza a vida e carreira do ator. Vale pegar como exemplo outro Tom, o Hanks, que recentemente também foi para o lado negro da força e não se deu muito bem nas bilheterias. Estrada para Perdição, estréia de Hanks como badboy, penou para superar a barreira dos 100 milhões de dólares nos Estados Unidos. Talvez os espectadores médios do "cinema-pipoca" não gostem deste tom sombrio para seus astros, o que é uma grande pena, pois é quando fogem de seu padrão normal que os grandes atores podem mostrar porque destoam da média.

Nota do Crítico
Bom