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O site do Homem Chavão, super-herói defensor dos chavões e amigo dos lugares comuns e das frases feitas, certa vez publicou uma lista sobre filmes do astro Tom Cruise:
- Top Gun: Tom Cruise é um piloto de avião. Ele é muito bom, mas um trauma o impede de ser o melhor. Ele se apaixona por uma mulher que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
- Coquetel: Tom Cruise é um barman. Ele é muito bom, mas um trauma o impede de ser o melhor. Ele se apaixona por uma mulher que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
- Jerry Maguire: Tom cruise é um agente de atletas. Ele é muito bom, mas depois de ser demitido, fica traumatizado, e este trauma o impede de ser o melhor. Ele se apaixona por uma mulher que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
- A cor do dinheiro: Tom Cruise é jogador de sinuca. Ele é muito bom, mas sua arrogância o impede de ser o melhor. Até que Paul Newman aparece e o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
- Minority report: Tom Cruise é um policial do futuro. Ele é o melhor, mas uma conspiração o coloca sob suspeita. Ele sequestra uma paranormal que o ajuda a superar, e no final ele alcança seu objetivo.
O texto acima (para ler mais, clique aqui) é uma simplificação de alguns sucessos estrelados por Cruise. Uma brincadeira. Mas, como dizem por aí, por trás de toda brincadeira sempre há um pingo de verdade. Afinal, é fato que pela sua beleza e charme, o ex-marido de Nicole Kidman é quase sempre chamado para o papel do galã, aquele que no fim do filme pega a mocinha nos braços e juntos vão viver felizes para sempre. Se é deste Tom Cruise que você gosta, Colateral (Collateral, 2004) não é para você.
Neste longa dirigido por Michael Mann (Ali), o ex-Ás Indomável encarna pela primeira vez um vilão no sentido literal da palavra. Ele é Vincent, um assassino profissional, cínico e frio, que está em Los Angeles para um trabalho rápido, de apenas uma noite. Ele odeia a cidade e contrata Max (Jamie Foxx, de Ali), um inocente e sonhador taxista, para levá-lo de um lado para o outro. Logo na primeira parada, um imprevisto faz com que Max descubra a verdade sobre seu passageiro, mas quando isso acontece, já é tarde demais e Vincent, um amante do jazz e da improvisação, faz dele um refém.
Pequenos detalhes, grandes diferenças
O roteiro, escrito por Stuart Beattie (Piratas do Caribe), tem diálogos bastante reais, do tipo que você poderia ter com um taxista... ou com um assassino de aluguel. Já a trama não tem nada de inovadora. Suas situações, explicações e desfechos são bastante previsíveis. Mas tudo é muito bem amarrado e consegue facilmente prender a atenção do espectador até o fim. A trilha sonora ajuda, tornando o clima calmo ou tenso, de acordo com o momento da história. E é esta alternância de humores do filme que faz as mais de duas horas de duração passarem sem maiores traumas.
Como as filmagens deveriam mostrar a noite de Los Angeles, Mann resolveu utilizar uma câmera digital de alta resolução, mais sensível à luz. Desta forma, pôde manter a iluminação o mais natural possível. Quem está bem diferente de seu natural é Tom Cruise, que porta barba e cabelos grisalhos. E diferente daquela clássica propaganda da TV, não são só os cabelos que mudaram, a voz também está alterada. Cruise consegue encaixar uma entonação diferente da normal em sua voz, o que enfatiza o lado obscuro do personagem. Outro bastante transformado é Mark Ruffalo, que nem parece ser o mesmo cara que está em cartaz por De repente 30 e Brilho eterno de uma mente sem lembranças. No elenco, temos ainda Foxx, que dá ao personagem todas as inseguranças e esperanças que ele precisa para existir, e Jada Pinkett Smith (Matrix Reloaded e Matrix Revolutions), que tem pouco espaço para mostrar o que sabe, mas preenche bem a tela quando aparece.
Tomando cuidado com os pequenos detalhes, como os descritos acima, ou com os posicionamentos de câmeras e iluminação, Mann faz de Colateral algo mais do que um simples filme de verão, deixando-o acima da média e ainda com um pequeno toque de arte. O maior exemplo é a tomada em que Max e Vincent vêem coiotes andando pelas ruas de Los Angeles, contrapondo o lado calmo do animal e a selvageria do homem.
Fora do tom
Com orçamento estimado em 65 milhões de dólares, Colateral está vagarosamente conseguindo de volta o dinheiro investido. A falta de interesse com certeza não é culpa da imprensa, que vem se desmanchando em elogios ao diretor e à mudança de estilo de Cruise. Aliás, talvez o problema seja justamente o "bom-mocismo" que caracteriza a vida e carreira do ator. Vale pegar como exemplo outro Tom, o Hanks, que recentemente também foi para o lado negro da força e não se deu muito bem nas bilheterias. Estrada para Perdição, estréia de Hanks como badboy, penou para superar a barreira dos 100 milhões de dólares nos Estados Unidos. Talvez os espectadores médios do "cinema-pipoca" não gostem deste tom sombrio para seus astros, o que é uma grande pena, pois é quando fogem de seu padrão normal que os grandes atores podem mostrar porque destoam da média.