Goldie Hawn deve ter gostado tanto de ver a filha Kate Hudson nas telas que agora investe no seu próprio Quase Famosos. Essa é a impressão que fica de Doidas demais (The banger sisters, 2002), comédia romântica em que ela e Susan Sarandon, respectivamente 57 e 56 anos completos em 2002, fazem o papel de duas ex-groupies que atravessam as agruras da vida adulta. Ou seja, imagine um filme com tietes de meia-idade descabeladas, vestindo roupas de couro... mas recauchutado, feito por gente bem menos qualidade do que Cameron Crowe, sem Rock, nem Lester Bangs.
A desencanada Suzette (Goldie) acaba de ser despedida do seu emprego numa boate, e precisa urgentemente de dinheiro. Procura, assim, uma antiga amiga dos loucos tempos setentistas, Vinnie (Susan), agora uma mãe de família e dona de casa intransigente, que inclusive renega o passado de farras e só responde por seu nome de batismo, Lavinia. Logicamente, rola certo conflito depois do encontro. Suzette insiste em viver no passado, enquanto Lavinia se empenha para evitar que as duas filhas (Eva Amurri, filha de Susan na vida real, e Erika Christensen, de Fixação) sigam o caminho que a mãe trilhou.
Do choque cultural inicial e das conseqüentes pazes, lembranças e afins, vive o filme, em meio a piadas tradicionais, sobre roupas e cortes de cabelo. Quebra o esquematismo uma figura estranha à temática, um certo Harry, personagem vivido pelo ótimo Geoffrey Rush (O alfaiate do Panamá). Roteirista de cinema fracassado, Harry entra na história como o motorista que leva Suzette à casa de Lavinia - e que pretende seguir viagem até o seu antigo lar, onde pretende jogar sobre o pai todas as culpas pelo seu fracasso profissional.
O personagem pitoresco de Rush serve como refresco na narrativa mas, deslocado, permanece como simples acessório durante toda a película (erro do diretor estreante Bob Dolman), como aquele típico escada-cômico dos filmes de ação. Aliás, nem isso é suficiente para tirar da inatividade um filme de uma única piada memorável, sobre os genitais do astros do Rock.
Doidas Demais também chega a flertar com o anarquismo de Beleza Americana (American Beauty, de Sam Mendes, 1999) - na passsagem em que Lavinia se rebela na mesa de jantar - mas fica no meio do caminho, perdido em soluções triviais. O diretor Dolman sairia redimido, uma vez que também assina o roteiro do filme, se dispensasse tudo e produzisse uma história baseada apenas no fracassado Harry.